História, perguntado por heitorcdesousagmail, 11 meses atrás

qual o objetivo da música popular brasileira na década de 70

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Respondido por Mariiiyh922
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Na hierarquia cultural da sociedade brasileira, a MPB chegou à década de 70
dotada de alto grau de reconhecimento junto às parcelas de elite da audiência musical,
ainda que alguns setores do meio acadêmico e literário não compartilhassem desta
valorização cultural excessiva. Enquanto o cinema e o teatro brasileiros, como um todo,
não conseguiam formar um público “fixo”, mais amplo, a música popular consolidava sua
vocação de “popularidade”, articulando reminiscências da cultura política nacional-popular
com a nova cultura de consumo vigente após a era do "milagre econômico", entre os anos
de 1968 e 1973. Eis, na nossa opinião, a peculiaridade da "instituição" MPB dos anos 70.
Há um outro aspecto que não pode deixar de ser enfatizado: como o sentido
principal da “institucionalização” da MPB, processo marcante nos anos 60, foi o de
consolidar o deslocamento do lugar social da canção, esboçado desde a Bossa Nova. O
estatuto de canção que dele emergiu não significou uma busca de identidade e coerência
estética rigorosa e unívoca. As canções de MPB seguiram sendo objetos híbridos,
portadores de elementos estéticos de natureza diversa, em sua estrutura poética e
musical. A “instituição” incorporou uma pluralidade de escutas e gêneros musicais que,
ora na forma de tendências musicais, ora como estilos pessoais, passaram a ser
classificados como MPB, processo para o qual a crítica especializada e as preferências
do público foram fundamentais. No pós-Tropicalismo elementos musicais diversos, até
concorrentes num primeiro momento com a MPB, passaram a ser incorporados sem
maiores traumas. Neste sentido concordamos com Charles Perrone quando ele define a
MPB mais como um "complexo cultural" do que como um gênero musical específico2.
Acrescentamos que este "complexo" cultural sofreu um processo de institucionalização na
cena musical, tornando-se o seu centro dinâmico.
O estudo da "instituição MPB", em sua fase de consolidação (anos 70), pode
revelar as marcas ambíguas, durante a qual segmentos sociais oriundos sobretudo das
“classes médias”3
, herdeiros de uma ideologia nacionalista integradora (no campo político)
mas abertos a uma nova cultura de consumo “cosmopolita” (no campo sócio-econômico),

Após o Ato Institucional nº5, instrumento legal promulgado em fins de 1968 que
aprofundou o caráter repressivo do Regime Militar brasileiro implantado quatro anos
antes, houve um corte abrupto das experiências musicais ocorridas no Brasil ao longo dos
anos 60. Na medida em que boa parte da vida musical brasileira, naquela década, estava
lastreada num intenso debate político-ideológico, o recrudescimento da repressão e a
censura prévia interferiram de maneira dramática e decisiva na produção e no consumo
de canções. A partir de então, os movimentos, artistas e eventos musicais e culturais
situados entre os marcos da Bossa Nova (1959) e do Tropicalismo (1968) foram
idealizados e percebidos como a balizas de um ciclo de renovação musical radical que, ao
que tudo indicava, havia se encerrado. Ao longo deste ciclo, surgiu e se consagrou a
expressão Música Popular Brasileira (MPB), sigla que sintetizava a busca de uma nova
canção que expressasse o Brasil como projeto de nação idealizado por uma cultura
política influenciada pela ideologia nacional-popular e pelo ciclo de desenvolvimento
industrial, impulsionado a partir dos anos 50.

1 A minha participação no IV Congresso de la Rama latinoamericana del IASPM (Cidade do México, abril
de 2002) teve o apoio da CAPES/MEC.
Após o Ato Institucional nº5, instrumento legal promulgado em fins de 1968 que
aprofundou o caráter repressivo do Regime Militar brasileiro implantado quatro anos
antes, houve um corte abrupto das experiências musicais ocorridas no Brasil ao longo dos
anos 60. Na medida em que boa parte da vida musical brasileira, naquela década, estava
lastreada num intenso debate político-ideológico, o recrudescimento da repressão e a
censura prévia interferiram de maneira dramática e decisiva na produção e no consumo
de canções. A partir de então, os movimentos, artistas e eventos musicais e culturais
situados entre os marcos da Bossa Nova (1959) e do Tropicalismo (1968) foram
idealizados e percebidos como a balizas de um ciclo de renovação musical radical que, ao
que tudo indicava, havia se encerrado.
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