Qual o impacto que a Modernidade europeia teve na América Latina e no Brasil?
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Resposta:
Nesta comunicação pretendemos relacionar o advento da Modernidade com a entrada da América Latina no cenário mundial de trocas de mercadorias, enquanto eventos simultâneos e indissociáveis, porque mutuamente definidores.
Explicação:
Nosso principal referencial teórico para enfrentar estas questões virá do Filósofo argentino Enrique Dussel (1995; 2002), cuja marginalização da vasta e importante obra no ambiente acadêmico brasileiro, diz muito sobre a dificuldade, nestes espaços, de pensar questões filosóficas a partir de nosso horizonte histórico particular, nos impedindo assim de apreender criticamente e problematizar a tradição teórica europeia, a fim de nos tornarmos sujeitos de nosso próprio pensar.
Uma questão que percebemos como fundamental seria desmascarar o caráter ideológico da historiografia oficial, que trata o ‘colonialismo’ como questão trivial, secundária para a realização da Modernidade. Quanto a este tema, seremos guiados pelo conceito de ‘colonialidade do poder’, como proposto pelo pensador peruano Aníbal Quijano, quando nos diz que: “o que hoje denominamos América Latina constituiu-se com e como parte do atual padrão de poder mundialmente dominante. Aqui se configuraram e se estabeleceram a ‘colonialidade’ e a globalidade como fundamentos e modos constitutivos do novo padrão de poder. Daqui partiu o processo histórico que definiu a dependência histórico-estrutural da América Latina, e deu lugar, no mesmo movimento, à constituição da Europa Ocidental como centro mundial de controle desse poder. E nesse movimento, definiu também os novos elementos materiais e subjetivos que fundaram o modo de existência social que recebeu o nome de modernidade” (Quijano, 2009, 23) .
Outro aspecto fundamental para esta formulação crítica da Modernidade a partir do horizonte latino-americano está bem expresso na colocação do antropólogo e pensador francês Bruno Latour, quando nos diz que: “se os ocidentais houvessem apenas feito comércio ou conquistado, pilhado e escravizado, não seriam muito diferentes dos outros comerciantes e conquistadores. Mas não, inventaram a ciência, esta atividade em tudo distinta da conquista e do comércio, da política e da moral” (Latour, 1994, 97) . Esta colocação reverbera uma pretensão de pureza e universalidade na construção/invenção da ‘ciência moderna’ – que remonta ao ‘ideal de infinitude’ grego de que nos fala Husserl [2002] ), capaz de subordinar todos os demais povos e culturas à missão messiânica de ‘salvação do mundo’ empreendida pela Europa. Sob esta perspectiva, os fatos vividos nas colônias, se tornam meros ‘efeitos colaterais’ a se somar ao que ficou conhecido como ‘fardo do homem branco’, condenado a levar o progresso e a civilização aos demais povos e culturas do globo.