História, perguntado por stefannysouza202, 1 ano atrás

Qual o contexto político do Estado da Inglaterra?

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Respondido por joaodograu517
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A recém-instituída monarquia nacional inglesa é o palco político da vida de More.

A Guerra dos 100 Anos (1337-1453) atrasara a formação do Estado-Nação inglês, além das confrontações com a vizinha Escócia. Superado tais conflitos, uma perturbação interna com formato de guerra civil - a Guerra das Rosas (1455-1487) - viria a expor rachaduras na nobreza do Reino.

Em 1487, emergiu reinante e coroada a dinastia dos Tudors. Henrique VII desposara Elizabeth de York e, com isso, forjara alianças para derrotar, em conflito armado, seus inimigos. A Casa dos Tudors reinou a Inglaterra no momento histórico de centralização político-administrativa dos Estados nacionais, aliando-se à burguesia que, pagando impostos, ajudou a estruturar o aparelho estatal.

Segundo rei da dinastia, Henrique VIII (1509-1547) iniciou, por motivos pessoais, uma crise diplomática que culminaria em reforma religiosa. Henrique conseguira permissão papal para se casar com a viúva de seu irmão mais velho, Catarina de Aragão. No entanto, este casamento não frutificara um herdeiro homem para o rei. Frustrado com a esposa e sentindo-se atraído por Ana Bolena, Henrique tomou em 1526 a decisão de se divorciar de Catarina. Sem falar com seu Chanceler Thomas Wolsey, arcebispo de York, Henrique apelou à Santa Sé, enviando seu secretário William Knight a Roma para que este pedisse diretamente ao papa que a bula de seu casamento com Catarina fosse anulada.

Wolsey veio a saber do interesse do rei e logo o advertiu que não lograria êxito em seu objetivo de separação, pois, para além de contrariar o Direito Canônico, o papa de então (Clemente VII) devia favores a Carlos de Habsburgo, sobrinho de Catarina. Por não conseguir reverter esse quadro, em 1529 Henrique expulsou Wolsey, além de confiscar seus bens, e o substituiu por Sir Thomas More.  

More ficou na Chancelaria por 3 anos, até ele próprio ser vítima das arbitrariedades do monarca, por não concordar com este. Durante seu período de Lord Chancellor, obteve o reconhecimento de toda a Corte, devido à competência e à imparcialidade na condução dos litígios (inclusive os deixados pelo antecessor).

Vendo a teimosia de Henrique VIII no caso de sua separação, sobre o qual tinha a mesma opinião que Wolsey, More se demitiu da Chancelaria inglesa em 1532. Preferia não integrar um suposto novo sistema do Estado inglês, cada vez mais centrado e focado na figura do rei.

Em 1534, com a Lei de Supremacia (Supremacy Act), organizou-se oficialmente a Igreja Anglicana (não mais precisando de uma instituição estrangeira como a Santa Sé de Roma para montar o ordenamento religioso; a Igreja Anglicana era, à esta época, chamada de Igreja da Inglaterra, nome oportuno num momento de construção de símbolos nacionais). Católico que usava cilício por debaixo da roupa, More discordava da iniciativa de Henrique VIII, permanecendo fiel à Igreja Católica, mas sem fazer críticas abertas ao monarca.

Neste mesmo ano, o Succession Act obrigava todos os funcionários públicos do reino a reconhecer os filhos do rei com sua nova esposa, Ana Bolena (questão crucial para a reforma anglicana, uma vez que a Igreja Católica os considerava ilegítimos). Não mais Chanceler, More se viu fora dos convocados ao juramento. Todavia, sua convocação acabou acontecendo "em caráter excepcional", ainda em 1534. Mantendo-se quieto ante os pedidos oficiais de juramento, para honrar sua posição ultra-católica, foi preso e, por pedido do próprio rei, julgado e condenado a morte. Sua execução se deu no dia 6 de julho de 1535 em Tower Hill. Este é considerado um dos maiores casos em que um soberano emprega seu poder para vingança pessoal - um vestígio do absolutismo dos Tudors.

Quanto aos aspectos sociais, a Inglaterra de More foi marcada pelos "enclousures", os cercamentos de terra que substituíram o modo feudal de produção agrícola por um novo, capitalista e burguês. Desde a Idade Média, a terra era um bem comum de posse dos senhores feudais mas trabalhada pelos camponeses. Os cercamentos vieram demarcar bem as terras dos senhores feudais, cada vez mais aderidos ao modo capitalista de produção (gentry e yeomen), expulsando delas hordas inteiras de camponeses. Tal movimento impulsionou a Revolução industrial, tanto por elevar radicalmente a produção de lã quanto por liberar mão-de-obra outrora camponesa para as fábricas das cidades; no entanto, as primeiras indústrias têxteis só vieram a aparecer mais de um século depois da morte de More. Este, por sua vez, viu somente o lado perverso dos cercamentos, com o surgimento de uma nova instituição: a propriedade privada, na concepção capitalista do termo.



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