História, perguntado por sillvahraquell, 11 meses atrás

qual foi o vírus transmissor da gripe espanhola e como as pessoas se contaminavam​

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Respondido por gomesanalucia66ana
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Resposta:

 

A gripe espanhola foi a maior e mais devastadora das doenças que grassaram no século XX - infectou mais de seiscentos milhões e vitimou entre vinte e quarenta milhões de pessoas em todo o mundo, em um curto espaço de tempo (Reid, Tautenberger, Fanning, 2001). A epidemia manifestou-se em três ondas - a primeira irrompeu em março de 1918, apresentando taxa de mortalidade bastante baixa e, por isso, não motivou preocupação excessiva; a segunda, altamente virulenta, espalhou-se pelo mundo a partir de agosto do mesmo ano; a terceira onda, menos virulenta, emergiu em janeiro de 1919, estendendo-se, em alguns lugares, até 1920 (Phillips, Killingray, 2003; Van Hartesveldt, 1993).

Durante a pandemia, cientistas e autoridades médicas e sanitárias de várias partes do mundo buscaram resposta para a crise epidêmica. Nesse processo, um conhecimento que havia alcançado situação de pretensa estabilidade foi subitamente abalado, inaugurando-se período de incertezas, controvérsias, experimentação e negociação, a fim de se estabelecerem um diagnóstico e uma terapia acertada para aquela doença.

Neste artigo, pretendemos analisar o modo pelo qual a medicina baiana se inseriu nas discussões sobre a gripe espanhola, bem como o aporte científico utilizado pelos médicos para explicar o fenômeno epidêmico, dar respostas eficazes à doença nos planos individual e coletivo, persuadir da gravidade da situação atores sociais diversos e com eles negociar a implantação das medidas necessárias para tratar a enfermidade e conter a epidemia.

Importantes veículos de informação sobre os debates que agitavam a comunidade médica, os jornais editados no estado mostraram-se fontes valiosas para o nosso estudo. Além da imprensa leiga, os periódicos médicos, assim como as teses publicadas na Faculdade de Medicina da Bahia, nos forneceram informações importantes sobre o conhecimento, a tecnologia e a prática médica e contribuíram para ampliar a nossa compreensão do processo de definição da doença e do aporte científico utilizado para explicá-la. As mensagens anualmente enviadas à Assembléia pelo governador Moniz de Aragão nos forneceram a versão oficial dos fatos. As informações obtidas na consulta a essas fontes confrontadas com as fornecidas por outras fontes, primárias e secundárias, tais como a literatura produzida sobre a Bahia, assim como os trabalhos no campo da história da medicina, da saúde e das doenças, juntamente com as narrativas sobre a gripe espanhola no Brasil e no mundo, ajudaram a enriquecer nossa análise sobre a passagem da epidemia pelo Estado da Bahia.

 

O conhecimento acumulado em epidemias precedentes

A gripe é velha conhecida do homem. Sucedem-se na história relatos sobre a incidência de doenças cujas características correspondem ao que hoje concebemos como uma epidemia de gripe - intempestiva aparição de enfermidade respiratória aguda, altamente contagiosa, que persiste por poucas semanas e, subitamente, desaparece (Beveridge, 1977, p.25-26). Em 412 a.C., Hipócrates descreveu a síndrome que hoje reconhecemos como aquela originada pelo vírus influenza. Existem registros de epidemias semelhantes durante a Idade Média. Desde o século XV, grassaram no continente americano. Para Roy Porter (2004, p.27), a gripe foi trazida ao Novo Mundo pelos europeus que a transportavam em suínos contaminados a bordo dos navios. De outro lado, Valdez Aguilar (2002, p.40) afirma que a gripe já existia no continente americano antes da chegada dos europeus. Menciona relatos de cronistas astecas sobre o 'catarro pestilencial' que se disseminou entre 1450 e 1456, produzindo grande número de vítimas na parte central do território atualmente conhecido por México. Entretanto, Beveridge (1977, p.27-30) adverte que os registros anteriores ao século XVIII são muito irregulares para permitir uma crônica fidedigna das pandemias de gripe. No que se refere ao Brasil, os registros tornam-se mais precisos a partir do século XIX.

Ao longo do Oitocentos houve várias pandemias de gripe. Entre 1830 e 1833, uma onda de gripe varreu o mundo provocando devastação superior à da epidemia de cólera sucedida em 1832 (Mordant, oct. 2005, p.25). Em 1847-1848, outro surto de gripe se disseminou pelo planeta, atingindo também o Brasil (Beveridge, 1977, p.29-30). Em 1889, outra onda pandêmica originada na Europa espalhou-se por todo o mundo: Índia, Austrália, América do Norte e do Sul até chegar novamente ao Brasil em 1890.

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