qual era a fonte da insatisfação popular em relação ao governo e suas políticas?
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Explicação:
Charge de 1904 mostra o povo sangrando com os braços furados pela lanceta que representa a lei da vacina obrigatória. Reprodução
Quando a proclamação da República completava 15 anos milhares de pessoas tomaram as ruas da cidade do Rio de Janeiro. Não para festejar o aniversário do processo que fundou a democracia no Brasil, mas em atitude de violenta revolta contra o sistema. A Revolta da Vacina, um levante popular contra a lei da vacinação obrigatória, eclodiu na capital em 10 de novembro de 1904. O Estado cobriu, com riqueza de detalhes, o motim que durou seis dias e cinco noites e só cessou após a revogação da obrigatoriedade da vacina.
O Estado de S. Paulo - 15/11/1906
"A cidade apresenta um aspecto tristíssimo, de verdadeira praça de guerra”, assim começa a descrição da situação no Rio no jornal de 15 de novembro de 1904. Nas edições dos meses que antecederam a revolta, o jornal relatou as disputas de interesses políticos em torno da lei da vacina e mostrou o crescente descontentamento da população com as medidas sanitárias implementadas pelo médico Oswaldo Cruz, diretor-geral da Saúde Pública, e com a reforma urbanística conduzida pelo prefeito Pereira Passos, fatores que confluíram para formar a onda de insatisfação que instaurou a desordem nas ruas.
Bonde é depredado durante Revolta daVacina, 1904. Reprodução
Epidemia e política. Assim como a peste e a febre amarela, a varíola era uma entre muitas das doenças que assolavam o Rio de Janeiro no início do século 20. Mas o aumento no número de casos de óbito pelo mal no primeiro semestre de 1904 - cerca de 4 mil pessoa morreram em uma população de 200 mil - fizeram da epidemia de varíola uma situação de emergência. O médico Oswaldo Cruz, indicado diretor-geral da Saúde Pública pelo presidente Rodrigues Alves, defendia que a vacinação obrigatória era o único meio de controlar a epidemia e afirmava que a imunização deveria ser realizada mesmo com o emprego de métodos autoritários.
Caricatura de 1904 mostra o médico Oswaldo Cruz usando chicote contra o povo
A recusa popular à medida foi amplamente sentida, mesmo antes da aprovação da Lei nº 1261 de 31 de outubro de 1904, que tornava a vacinação obrigatória. As campanhas de imunização já eram usadas com sucesso em países da Europa, mas seu uso no Brasil era pequeno e a população ainda desconfiava de seus efeitos. O Estado de 18 de setembro de 1904 relatou que até agentes da Saúde Pública mantinham forte recusa em tomar a vacina: “O sr. dr. Oswaldo Cruz, director da Saúde Pública, ordenou que fossem submetidos a vacinação todos os empregados da Saúde Pública, em número de trezentos. Parte dos empregados assumiu attitude hostil, declarando não se submetter à vaccinação. Á vista disso, o dr. Oswaldo Cruz pediu providências à polícia, que logo compareceu ao local. A maioria dos empregados já se havia retirado, quando chegou a força. Poucos se submetteram à vaccinação.”, contava a publicação.
Cientes da impopularidade de Oswaldo Cruz e de suas medidas, a oposição aproveitava para ganhar terreno na Câmara e no Senado. A eficácia da imunização era questionada em discursos inflamados que lembravam os cidadãos da ingerência do Estado ao impor a vacinação. No jornal Correio da Manhã os agentes de Saúde Pública eram chamados de forças do “Santo Officio de Tortura Pública”, numa clara alusão ao período da Inquisição. Na mesma notícia sobre a lei da vacinação o texto terminava dizendo que “o povo do Rio de Janeiro, cuja provada mansidão anima a que pratiquem contra elle todas as violencias e lhe inflijam todas as humilhações, é que terá de experimentar as novas torturas consignadas no capitulio agora addicionado maldito código, que o fanatismo imperioso do sr. Oswaldo Cruz impôz à insensensibilidade do sr. Rodrigues Alves.”
No Senado, Barata Ribeiro discursava contra o governo e inflamava a revolta na população: “Ao que parece, o governo tem o proposito de alimentar a epidemia desprezando a prophylaxia afim de obrigar o povo a estender o braço à lanceta homicida. Queria que o sr. Rodrigues Alves saísse da mudez de seu palacio e viesse para o meio da população escutar os seus lamentos. Elle coraria tambem vendo tanta desgraça(...)”, como mostrou o Estado de 28 de setembro de 1904. A solução proposta pelo senador, que também era médico, era a abertura de mais leis de crédito para construção de hospitais.
O Estado de S.Paulo - 18/9/1904 e 28/9/1904
Durante o aguerrido debate sobre a lei da vacina o Estado publicou argumentos favoráveis à vacinação e trouxe relatos dos bons efeitos das campanhas de imunização na França e na Alemanha que por esse método ".
Charge de 1904 mostra o povo sangrando com os braços furados pela lanceta que representa a lei da vacina obrigatória. Reprodução
Quando a proclamação da República completava 15 anos milhares de pessoas tomaram as ruas da cidade do Rio de Janeiro. Não para festejar o aniversário do processo que fundou a democracia no Brasil, mas em atitude de violenta revolta contra o sistema. A Revolta da Vacina, um levante popular contra a lei da vacinação obrigatória, eclodiu na capital em 10 de novembro de 1904. O Estado cobriu, com riqueza de detalhes, o motim que durou seis dias e cinco noites e só cessou após a revogação da obrigatoriedade da vacina.
O Estado de S. Paulo - 15/11/1906
"A cidade apresenta um aspecto tristíssimo, de verdadeira praça de guerra”, assim começa a descrição da situação no Rio no jornal de 15 de novembro de 1904. Nas edições dos meses que antecederam a revolta, o jornal relatou as disputas de interesses políticos em torno da lei da vacina e mostrou o crescente descontentamento da população com as medidas sanitárias implementadas pelo médico Oswaldo Cruz, diretor-geral da Saúde Pública, e com a reforma urbanística conduzida pelo prefeito Pereira Passos, fatores que confluíram para formar a onda de insatisfação que instaurou a desordem nas ruas.
Bonde é depredado durante Revolta daVacina, 1904. Reprodução
Epidemia e política. Assim como a peste e a febre amarela, a varíola era uma entre muitas das doenças que assolavam o Rio de Janeiro no início do século 20. Mas o aumento no número de casos de óbito pelo mal no primeiro semestre de 1904 - cerca de 4 mil pessoa morreram em uma população de 200 mil - fizeram da epidemia de varíola uma situação de emergência. O médico Oswaldo Cruz, indicado diretor-geral da Saúde Pública pelo presidente Rodrigues Alves, defendia que a vacinação obrigatória era o único meio de controlar a epidemia e afirmava que a imunização deveria ser realizada mesmo com o emprego de métodos autoritários.
Caricatura de 1904 mostra o médico Oswaldo Cruz usando chicote contra o povo
A recusa popular à medida foi amplamente sentida, mesmo antes da aprovação da Lei nº 1261 de 31 de outubro de 1904, que tornava a vacinação obrigatória. As campanhas de imunização já eram usadas com sucesso em países da Europa, mas seu uso no Brasil era pequeno e a população ainda desconfiava de seus efeitos. O Estado de 18 de setembro de 1904 relatou que até agentes da Saúde Pública mantinham forte recusa em tomar a vacina: “O sr. dr. Oswaldo Cruz, director da Saúde Pública, ordenou que fossem submetidos a vacinação todos os empregados da Saúde Pública, em número de trezentos. Parte dos empregados assumiu attitude hostil, declarando não se submetter à vaccinação. Á vista disso, o dr. Oswaldo Cruz pediu providências à polícia, que logo compareceu ao local. A maioria dos empregados já se havia retirado, quando chegou a força. Poucos se submetteram à vaccinação.”, contava a publicação.
Cientes da impopularidade de Oswaldo Cruz e de suas medidas, a oposição aproveitava para ganhar terreno na Câmara e no Senado. A eficácia da imunização era questionada em discursos inflamados que lembravam os cidadãos da ingerência do Estado ao impor a vacinação. No jornal Correio da Manhã os agentes de Saúde Pública eram chamados de forças do “Santo Officio de Tortura Pública”, numa clara alusão ao período da Inquisição. Na mesma notícia sobre a lei da vacinação o texto terminava dizendo que “o povo do Rio de Janeiro, cuja provada mansidão anima a que pratiquem contra elle todas as violencias e lhe inflijam todas as humilhações, é que terá de experimentar as novas torturas consignadas no capitulio agora addicionado maldito código, que o fanatismo imperioso do sr. Oswaldo Cruz impôz à insensensibilidade do sr. Rodrigues Alves.”
No Senado, Barata Ribeiro discursava contra o governo e inflamava a revolta na população: “Ao que parece, o governo tem o proposito de alimentar a epidemia desprezando a prophylaxia afim de obrigar o povo a estender o braço à lanceta homicida. Queria que o sr. Rodrigues Alves saísse da mudez de seu palacio e viesse para o meio da população escutar os seus lamentos. Elle coraria tambem vendo tanta desgraça(...)”, como mostrou o Estado de 28 de setembro de 1904. A solução proposta pelo senador, que também era médico, era a abertura de mais leis de crédito para construção de hospitais.
O Estado de S.Paulo - 18/9/1904 e 28/9/1904
Durante o aguerrido debate sobre a lei da vacina o Estado publicou argumentos favoráveis à vacinação e trouxe relatos dos bons efeitos das campanhas de imunização na França e na Alemanha que por esse método ".