Biologia, perguntado por paulogilbertotavares, 8 meses atrás

Qual é o texto do homem nu​

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Respondido por DΔfiny
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Resposta:

O Homem Nu é um livro de crônicas e contos do escritor brasileiro Fernando Sabino. É composto por quarenta crônicas e pequenos contos formam o livro, que traz reflexões sobre o cotidiano. Uma das crônicas, a que dá o título ao livro - O Homem Nu -, fala sobre um homem que, ao ir apanhar o pão, se vê do lado de fora do apartamento completamente nu, sem conseguir entrar.

Texto:

O Homem Nu

                     Fernando Sabino

            Ao acordar, disse para a mulher:

-- Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da

       televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas

 acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

                                   

                                    -- Explique isso ao homem -- ponderou a mulher.

                                   

-- Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de

cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar -- amanhã eu pago.

                                    Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro

     para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a

porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu,

olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre

      o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de

   si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

                                   

                                   

 Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de

   tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão.

                Bateu com o nó dos dedos:

                                   

-- Maria! Abre aí, Maria. Sou eu -- chamou, em voz baixa.

                                   

                                   

    Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

                                   

                                   

   Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era

                  o homem da televisão!

                                   

 Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares,

    esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu

  apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

                                   

                                   

              -- Maria, por favor! Sou eu!

                                   

  Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia

  executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se

  aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o

  elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com

                   o embrulho do pão.

                                   

  Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele

                    começa a descer.

                                   

-- Ah, isso é que não! -- fez o homem nu, sobressaltado.

                                   

                                   

 E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e

      daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho

conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez

 para mais longe de seu apartamento, começava a viver um

verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais

        autêntico e desvairado Regime do Terror!

                                   

         -- Isso é que não -- repetiu, furioso.

                                    Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os

  andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar

   o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o

 elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito

bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a

  parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o

            elevador subir. O elevador subiu.

                                    -- Maria! Abre esta porta! -- gritava, desta vez esmurrando

   a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria

                      atrás de si.

                                    Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando

     inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do

                  apartamento vizinho:

                                    -- Bom dia, minha senhora -- disse ele, confuso. -- Imagine

                        que eu...

                                    A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um

                         grito:

                                   

          -- Valha-me Deus! O padeiro está nu!

                                   

    E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

                                   

                                   

          -- Tem um homem pelado aqui na porta!

                                   

 Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se

                        passava:

                                   

                     -- É um tarado!

                  -- Olha, que horror!

-- Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

                                   

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para

        ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se

precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois,

     restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

                                   

                                   

 -- Deve ser a polícia -- disse ele, ainda ofegante, indo

                         abrir.

                                   

          Não era: era o cobrador da televisão.

                                   

                                   

       Este é um dos contos mais famosos do grande escritor

 mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome,

    Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65.

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