qual é o humor em dom quixote
Soluções para a tarefa
Dom Quixote
e o humor involuntário!
No capítulo XLV, no primeiro volume, há uma cena em que se discute se uma bacia é uma bacia ou o elmo de Mambrino, …
No capítulo XLV, no primeiro volume, há uma cena em que se discute se uma bacia é uma bacia ou o elmo de Mambrino, e se uma albarda é um jaez. Lá pelas tantas um criado do dom Luís diz: "Porque voto a tal (y arrojole redondo) que no me den a mí a ententer (?)". "Voto a tal" é o mesmo que "voto a Deus". Por respeito se suprime o nome de Deus. É uma interjeição que denota surpresa ou inicia uma ameaça, como dizer "por Deus", "com os diabos". Está em qualquer dicionário mediano. "Arrojole redondo", literalmente, é "atirou-lhe redondo", quer dizer, a exclamação ou praga foi dita toda, sem eufemismos. Nenhum dos tradutores brasileiros ou portugueses que conheço resolveu isso direito, mas Almir de Andrade e Milton Amado se saíram com esta: "Por isto aqui - e fez um gesto de arredondar os dedos - não me hão de convencer (?)". Se não me engano, isso quer dizer que o criado mandou o Quixote tomar naquele lugar, certo?
Claro que esse não é o pior erro que encontrei nas traduções do Quixote, mas é um dos mais engraçados. Aí é que está o ponto. Um dos grandes livros cômicos, ou talvez o maior deles, nas nossas traduções quase não tem graça, fora muitas vezes a graça duvidosa do humor involuntário.
Depois de um longo inverno
?morro de saudade das bancas de frutas na Vila Nova com pêssegos, ameixas, uvas, moranguinhos; de ficar deitado com um dos pés pra fora do lençol; dos banhos de rio da infância; de me sentar sob uma árvore, no chão sol e sombra fazendo uma pele de onça; do primeiro gole da cerveja muito gelada; do bronzeado das mulheres; de andar descalço dentro de casa; dos óculos escuros que deixam até a vizinha feiinha misteriosa; de dar aleluias ao sol pela manhã e rogar pragas para ele à tarde; do vento nas folhas; do xixi das fontes, como dizia o Quintana; do cheiro da chuva na poeira; das ondas do mar me batendo nos ombros como um velho amigo desajeitado; da salada de frutas depois da sesta; da certeza, sempre nova e alegre, de que monumento arquitetônico são as varandas, não as pirâmides; de morrer no inverno, pra não atrapalhar a vida dos outros?
Madame Natasha
Adoro a personagem do Elio Gaspari, aquela senhora que distribui bolsas de português a políticos, economistas e intelectuais. Esses dias, topei com esta nota:
"Madame Natascha adora aulas magnas e está inconsolável por ter perdido a palestra da professora Hélène Trocmé-Fabre na FGV-SP relacionada à necessidade de se 'reinventar o ofício de aprender'.
"Num anúncio do evento, informava-se que 'imagens fractais ilustram o extraordinário poder organizador e recursos de criação dos acontecimentos mentais da nossa vida cognitiva'. A professora lida com 'o conceito de Aprendência' e 'apresenta considerações fundantes sobre o valor da linguagem do vivente', explorando 'a transição educativa de aprendizagem recíproca e da organização aprendente'.
"Natasha não tem a menor ideia do que estão falando."
Eu tenho uma ideia por motivos infelizes: pra pagar o feijão com arroz, tive de traduzir dezenas de educadores tipo essa Hélène. A linguagem de viventes boçalizantes só não é pior do que a linguagem de viventes aprendentes de boçalização recíproca. Esses viventes deveriam ter gravado no lombo, como o condenado do Kafka, as considerações fundantes da clareza.
Linguagem do vivente
Que papo é esse? Que eu saiba, quem deixou de ser vivente não tem linguagem nenhuma. Ou você aceita como argumento uma sessão do copo e livros psicografados? Sessão do copo e livros psicografados são traduções do que o vivente pensa ter ouvido o morrente sussurrar. Suspeito que tudo isso não passa de uma estratégia vegetante nas estufas da academia.