História, perguntado por maiconnino, 5 meses atrás

Qual é o conceito de escravidão e racismo​

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Respondido por elisarodri
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Resposta:

Compreender o racismo como uma herança arcaica da escravidão torna mais fácil reduzir o problema à ótica individual, ignorando a existência de um racismo estrutural. O resultado de atos de violência como esse é associado aos desvios de comportamento de sujeitos que possuem uma cabeça atrasada e incivilizada. Acredita-se que o açoite aconteceu em razão da existência de alguns sujeitos racistas, ignorando-se todos os outros elementos de uma sociedade racista que permitiram a eclosão daquele ato de violência. Ignorando-se que ocorreu dentro de um estabelecimento privado frequentado majoritariamente por pessoas brancas. Que teve como “justificativa” a suposta tentativa de um crime patrimonial de valia insignificante. Que tinha, por detrás, um jovem em situação de rua que buscava driblar o desespero da fome. Tantos e tantos elementos que corroboram a existência de um contexto racista de tantas violências que permite a eclosão de uma violência mais evidente, essa sim praticada por sujeitos individualizáveis, enquanto todas as outras tem uma responsabilidade pulverizada e ignorada pela sociedade.

Por outra ótica, explica Silvio de Almeida, a compreensão da relação entre o Racismo e a Escravidão não se finda no estabelecimento de uma herança. Essa outra corrente não nega os impactos terríveis da escravidão na formação econômica e social brasileira, inclusive na formação da memória e simbologia dos atos de violência praticados durante a escravidão. Contudo, “as formas contemporâneas de racismo são produtos do capitalismo avançado e da racionalidade moderna e não resquício de um passado que não passa. O racismo não é um resto de escravidão, até porque não há oposição entre modernidade/capitalismo e escravidão. A escravidão e o racismo são elementos constitutivos tanto da modernidade quanto do capitalismo, de tal modo que não há falar de um sem o outro”.

O racismo é um fenômeno atual. Isso não nega a sua origem no regime escravocrata, mas, ao contrário, reconhece que apesar de se ter findado com o regime de exploração escravocrata – da forma tradicional, reconhecida formalmente pelas instituições como legítimo – o racismo se perpetua. Há uma atualização do racismo que se dissocia da escravidão. Não podemos contemplar o fim da escravidão e acreditar que com ela o racismo teria morrido, sobrando-se eventuais episódios inadequados que devam ser enterrados juntos a partir de uma “civilidade moderna”. A civilidade moderna é racista. É isso que torna o racismo estrutural: a sua atualização como condição para o regime capitalista contemporâneo.

O que temos, então, é a existência de um ato de violência que nos remete à uma herança escravocrata, mas que é uma representação moderna da nossa sociedade, e não um mero resquício de um passado. O estranhamento é diferente: não estamos diante de algo que não deveria ter ocorrido em razão de ser inadequado com a marcha civilizatória da nossa sociedade, ou seja, como um ato isolado. Estamos diante de algo que não deveria existir, mas é fruto imediato da nossa sociedade racista contemporânea, fruto de um racismo estrutural.

Enquanto encararmos esses atos como meras inadequações, estaremos negando a contemporaneidade que o racismo tem na estrutura social. Estaremos confirmando a existência cotidiana de atos de violência que são classificados como fenômenos isolados e estranhos, e não reconhecê-los como atos resultantes da nossa formatação social. Voltando ao caso, são justamente as demais questões que ignoramos que explicitam o caráter estrutural do racismo nesse caso.

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