Sociologia, perguntado por camillavilela67, 10 meses atrás

qual é a sua opinião sobre o fascismo?

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Respondido por onialo
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Em março de 1944, o escritor George Orwell publicou na coluna “As I Please”, no jornal londrino Tribune o texto “O que é o fascismo?”. Começa assim: “De todas as perguntas não respondidas sobre nossa época, talvez a mais importante seja: ‘O que é o fascismo?’” Passados 74 anos, o termo ainda suscita algumas dúvidas, embora todos saibamos que trata-se de um regime autoritário, centrado na figura de um ditador, com uma propaganda nacionalista, uma pauta focada em raça e toques legítimos de violência.

Até os últimos dois anos, a palavra parecia histórica. Nos anos 20, Benito Mussolini liderou o grupo político Fascio de Combate, que logo depois se tornou o Partido Nacional Fascista. Com ele, enfrentou comunistas, socialistas e anarquistas. Sufocou a todos após conquistar ampla maioria no Congresso.

Estava instalado o fascismo no Itália. Regime bem semelhante chegou ao poder na Alemanha nos anos 30. Tudo pelo voto, legalmente constituído etc e tal. Além das semelhanças estruturais – o nacionalismo social e econômico, o ditador, a raça – uma das marcas principais do fascismo foi o uso da violência. Uma violência crua, calculada, fria, que se transformara em estratégia de ação política.

Nos últimos dois anos, o termo fascismo tem estado mais presente do dia a dia do que desejava. Se, de princípio, parecia histrionice vocabular, nos últimos dias tem se mostrado fornido. Cheguei a sentir saudade de quando a maledicência se restringia às mídias sociais, que eu achava trash e perguntava se, caso essas pessoas estivessem em frente aos adversários agiriam de forma violenta. Infelizmente, parece que coisa saiu das redes e a resposta é sim.  

Desde a morte – até agora inexplicável – da vereadora Marielle Franco (Psol), sinto como se algo tivesse arrebentado limites e a violência física estivesse se avizinhando do campo das ideias. Ideias não aceitas por um grupo que despreza o diálogo lança mão das armas, das pedras, da coação, da inibição pela força, da produção da mentira em escala. O que aconteceu com a caravana de Lula no Sul do País é outra mostra vigorosa de como a violência no meio político pode sim, se tornar uma estratégia. Ou seja, uma prática fascista. A democracia é justamente o oposto. Em vez de matar e/ou silenciar o adversário para impor seu ponto de vista a qualquer custo, usa-se as ferramentas à disposição para se contrapor, discordar, protestar.  

O outro episódio que me chama a atenção é quanto à série O Mecanismo, em cartaz atualmente pelo Netflix. Vendida como ficção baseada em fatos reais, eu me assusto com algumas interferências extremas ao debate. Por exemplo, a campanha de cancelamento de assinaturas. Não estive com uma única alma que defendesse o cancelamento de contas no Santander, motivado pela exposição Queermuseu – Cartografias da diferença na arte brasileira, que despertou a fúria do MBL e seus seguidores.  

Há realmente motivo para tamanha intolerância? A ficção é baseada num ponto de vista. E sobre esse ponto dá para se fazer inúmeros debates. Os limites entre o real e a imaginação é um tópico sempre atual nas artes contemporâneas. Mas quando o discurso se torna intolerante, eu penso logo na miserável palavra: Fascismo. Mesmo que, de Orwell até agora, o significado não esteja lá muito preciso.

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