Qual é a relação entre: operariado-capital-capitalismo?
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Resposta:Para o capitalista, seu capital é uma massa de coisas, de elementos, de fatores. Todos juntos contribuindo mais ou menos igualmente para a produção do lucro e da riqueza. O operário recebe pelo seu trabalho, o “salário justo” escondendo-se assim a relação de exploração, depois da qual o capitalista terá sua riqueza crescendo e o operário permanece refém da sua pobreza, sempre dependendo da sua força de trabalho para viver.
A essência da fábrica, o que a move, sua alma, se funda na relação de exploração que o capitalista trava com os operários. A partir desta relação e pelas mãos exclusivamente do operário, nasce o novo valor, a riqueza, toda riqueza. No argumento de Mandel, ”na realidade, toda a massa das riquezas fixas que vêm ao mundo, toda a massa das fábricas, das máquinas e das estradas, das linhas de trem, dos portos, dos armazéns etc etc, toda essa massa imensa de riquezas não é outra coisa senão a materialização de uma massa de mais valia criada pelos operários, de trabalho não retribuído e transformado em propriedade privada, em capital para os capitalistas, ou seja, é uma prova colossal da exploração permanente sofrida pela classe operária desde a origem da sociedade capitalista”.
E aqui, fundamentalmente aqui, se concentra toda a preocupação do burguês: como extrair mais valia, como acumular capital.
Ele não quer saber se vai produzir sapato, roupa ou galinha. Não passa de ilusão pensar no patrão como alguém preocupado com o sapato a ser produzido, muito menos com o operário, que é para ele mais um elemento do capital, “fator de produção” ou mercadoria (força de trabalho) ele compra para usá-la, consumi-la, por oito, nove horas. O objetivo do capitalista é engordar seu capital. E ficar submerso nas sombras do fetiche, da mistificação, daquilo que também se conhece como reificação, relação entre coisas.
No argumento de L Gill, no seu Fundamentos y limites del capital: “”A identificação do capital com uma massa de coisas, neste caso com os meios de produção, é uma reificação da relação social que o capital expressa, relação entre capitalista e trabalhador assalariado. À reificação das relações de produção, Marx lhe associa outra propriedade da sociedade mercantil, a personificação das coisas. O capitalista, por exemplo, é uma simples personificação do capital, o capital “em carne e osso”, um indivíduo cuja razão de ser é a de fazer o capital frutificar”.
É importante ter clareza sobre o que significa capital.
Os manuais burgueses definem como capital todo instrumento de trabalho. No exemplo da sapataria, seriam as máquinas para furar, cortar couro etc. No entanto, o maquinário é apenas meio de produção que, apenas no capitalismo, assume a forma de capital; isto é, mercadoria para produzir valor. Fora da relação social capitalista um instrumento de trabalho é apenas o que é, um instrumento de trabalho. Caso contrário, como argumenta Mandel, o primeiro capitalista seria o primeiro macaco que agarrasse uma vara - instrumento de trabalho - para tirar banana madura do pé de banana. O capital precisa estar fundado em uma relação social entre homens que permita ao proprietário do capital – dono dos meios de produção - apropriar-se de mais valia para engordar seu capital, fazer seu dinheiro ganhar mais valor.
Observe-se aquele exemplo do patrão de uma pequena fábrica têxtil do Rio de Janeiro, agora em setembro, que demitiu sem pestanejar 60 das 90 operárias por conta “da crise”, isto é, porque não estava conseguindo o lucro que pretendia. A miséria familiar de qualquer das suas operárias não é prioridade e nem problema para ele. As operárias não significam qualquer coisa para ele. Sua preocupação, como persona do capital, é acumular mais capital, mais valor. E o faz através das coisas que estão na sua frente, as quais ele somente enxerga como coisas, tratando de utilizá-las para fazer o seu capital crescer.
O operário nunca é mais para ele do que algo que ele vai usar na condição de mercadoria força de trabalho. Para ele o operário deve se comportar como mercadoria, sem qualquer subjetividade que não seja a da submissão, da obediência.
O patrão conta com os aparelhos ideológicos tipo mídia, escola, igreja, para tratar de perpetuar o pensamento do operário no sentido de que ele se sinta uma mercadoria que recebe seu “justo” pagamento, pelo trabalho prestado ao patrão. É o feitiço da mercadoria na cabeça da mercadoria viva, o operário, única mercadoria com poder de gerar riqueza. Mas o patrão somente pode reinar, como senhor, porque e enquanto - em condições normais, não revolucionárias -, o trabalhador continue pensando ou sentido que ele vale tanto quanto um “simples” trabalhador, que o gari sinta que vale tanto “quanto vale” um gari. Que ele siga pensando que o doutor, porque estudou “vale mais”, ou o patrão, porque tem “o capital”, vale mais, que ele tem seu papel na vida porque “gera empregos”. E que o salário pagou seu trabalho. Enfim, toda uma cadeia de mistificações.