Qual é a importância de Sócrates?
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Sócrates revolucionou a Filosofia ao transferir a vocação questionadora da natureza física para a natureza humana, seus valores, verdades e fundamentos. Se existiu alguma revolução na filosofia logo em seus primeiros séculos na Grécia Antiga, ela atende por um nome: Sócrates.
Alterando radicalmente o uso da razão e o objeto de investigação filosófica, ele decidiu que, em vez de continuarem debatendo sobre a origem e transformação do universo e todas as coisas que nele havia, os homens fariam melhor se investigassem a si mesmos: a verdadeira descoberta estava no interior da alma humana, e não fora dela.
Nascido em 469 a.C. nas planícies do monte Licabeto, próximo a Atenas, Sócrates vinha de família humilde e durante a infância ajudou o pai no ofício de escultor. Logo sua vocação falou mais alto e partiu para aprender filosofia, sendo discípulo dos filósofos Anaxágoras e Arquelau.
Entretanto, insatisfeito com as limitações do pensamento filosófico que era expresso em sua época, decidiu descobrir um novo modo de conhecimento. Em vez de restringir seu debate somente aos eminentes, Sócrates era visto em toda parte — especialmente na Ágora (área central de Atenas onde se desenrolava toda a vida pública da cidade) — dialogando com todo o tipo de gente. Suas andanças o levaram ao Oráculo de Delfos, o qual, para espanto do próprio Sócrates, o declarou “o mais sábio dos homens”.
Discordando do Oráculo, Sócrates decidiu encontrar em Atenas alguém que fosse mais sábio que ele próprio, mas, dialogando com as pessoas da cidade famosas pela inteligência e sabedoria, logo se convenceu de que elas, na verdade, nada sabiam de concreto. A cada sábio que interpelava, em algum momento da conversa, Sócrates logo percebia falseamentos e contradições.
O modo como nosso filósofo procedia era inédito até então e ficou conhecido como dialética. Inicialmente, pedia a seu interlocutor que discorresse sobre um assunto qualquer como a justiça, a coragem, a escolha de uma profissão, etc. Em seguida, a partir dos pensamentos mal formulados e expressos, Sócrates ia demolindo os argumentos um a um, de modo que seu oponente ficava frequentemente sem respostas.
Na verdade, esse método provocador de Sócrates obedecia a um princípio filosófico justificável. Para ele, a grande confusão reinante no mundo humano — e que levava os sofistas a concluir que “não há certezas, apenas convenções” — baseava-se no fato de que as pessoas, mesmo os tidos sábios, não raciocinavam com o devido cuidado sobre si mesmos, suas opiniões, valores e ações, tomando como óbvio coisas que deveriam sempre ser questionadas até o entendimento completo.
Em seus diálogos — alguns dos quais chegaram a nós através do seu discípulo Platão — Sócrates buscava o esclarecimento dos conceitos mais básicos. Após se valer de sua dialética negativa, derrubando racionalmente os argumentos enganosos e confusos, ele partia para uma dialética positiva, buscando ressaltar o valor de verdade das proposições que restavam.
Em razão de sua maneira irresistivelmente provocadora de conversar e ao seu carisma pessoal, Sócrates se tornou figura muito popular em Atenas, atraindo igualmente discípulos adoradores e inimigos invejosos. Era convidado frequente de jantares e festas, sempre rodeado de curiosos. Em breve, porém, pôde demonstrar outra qualidade: a coragem.
Sócrates lutou como soldado na Guerra do Peloponeso (entre Atenas e Esparta) e, segundo consta, demonstrou grande bravura em combate. Em um episódio, carregou um companheiro ferido em meio ao ataque das tropas inimigas.
Politicamente, embora não demonstrasse preferências, Sócrates era tido como perigoso aos poderosos em virtude de sua língua afiada. Ao final da guerra, quando a Atenas derrotada foi dominada pelos Trinta Tiranos, declarou-se a proibição de se ensinar ou discutir filosofia em público.
Com a volta da democracia, anos depois, a situação do filósofo não melhorou. Após uma acusação forjada de blasfêmia contra os deuses, Sócrates foi a julgamento — que se tornaria célebre na descrição feita por Platão. Infelizmente, neste caso, sua prosa elegante e provocadora teve efeito negativo e, após irritar a maioria do juri — dizendo entre outras coisas que em vez de julgado deveria ser declarado herói — Sócrates acabou condenado à morte.
Suas ideias e métodos, porém, viveriam muito além dele, influenciando a filosofia por toda a história e fazendo dele, com justiça, o primeiro magistral pensador filosófico que o mundo conheceria.