História, perguntado por Maraiseap2509, 1 ano atrás

Qual a relaçao entre nacionalismo e literatura no Brasil ?

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Respondido por biavane
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Teoricamente, o nacionalismo independe da literatura, pois o significado fundamental de nação, mesmo o mais difundido na literatura, é político. Com efeito, há nessa arte uma inegável aspiração nacional, o que explica, inicialmente, o vínculo do significado político com o uso estético da linguagem. De maneira geral o Romantismo foi o grande tributário do nacionalismo, embora nem todas as suas manifestações se integrassem nele (Antonio Candido: Formação da Literatura Brasileira. 1993, p. 15). A tendência dessa conexão, que vinha se acentuando desde o século XVIII, encontra no Romantismo o intuito patriótico e o tema da identificação nacional e tudo que nele estava implicado. O encontro das aspirações de atender o propósito histórico da construção das diversas identidades nacionais concomitantemente com a formação das respectivas literaturas nacionais estabelece a dupla orientação que define as principais relações entre literatura e nacionalidade. Os nacionalismos literários ganharam diversas formas, cujo leque variado se estende entre dois extremos. Em um deles, limitado às dimensões predominantemente localistas, reflete uma concepção ontológica, fixa e permanente de nacionalidade. A outra compreensão, mais voltada para a universalidade e o reconhecimento das diferenças, é baseada na inconstância, alteridade e multiplicidade. Como a identidade nacional não tem existência objetiva, ambas as concepções, e as diversas gradações existentes entre elas, passam necessariamente pela dimensão da ficcionalidade, posto que a representação de nacionalidade é fundamentalmente baseada no sentido e sentimento de pertença ou compartilhamento que os integrantes de uma determinada comunidade ou grupo social têm de fazer parte de uma mesma “comunidade imaginária” (Bennedict Anderson: Nação e consciência nacional, Brasil, 1989, p.33). A literatura, então, fornece aos nacionalismos a expressão dessa ficção, que é a impressão de que os diferentes indivíduos de um grupo social comparticipam simultaneamente de uma mesma realidade social, histórica, cultural e, principalmente, identitária. Desse modo o nacionalismo, em seus diversos matizes, baseia-se na idéia da unidade nacional e, para isso, enraíza-se no propósito coletivo da igualdade interna e, outrossim, na diferença externa. A igualdade interna decompõe-se do fundamento de um caráter e, por conseqüência, essência que caracterizaria um povo, sua cultura e história. Evidentemente essa essência, na medida em que contempla os vínculos internos de parentesco e ancestralidade comuns, também observa atentamente a diferença aos elementos externos tais como outros grupos sociais, culturas e nações. Por isso, a definição do caráter predominante de um povo revela-se imprescindível para configurar o imaginário da identidade nacional. Essa percepção pressupõe formas de afiliação social e textual, porque é estabelecida por uma série de narrativas sociais e literárias que fornecem imagens, cenários, símbolos e histórias que representam o sentimento imaginário de uma realidade compartilhada e coexistente, que configura o alicerce da idéia de nação. Esse conjunto de narrativas que tem na literatura o seu aliado decisivo denomina-se “narrativa da nação” (Stuart Hall: A identidade cultural na pós-modernidade, Brasil, 1997, p. 56). As narrativas nacionais, como entidades culturais, são produzidas a partir da rede intertextual que representa a coesão da coletividade ligada a uma suposta ancestralidade comum a todos e é atualizada à medida que novos textos passam a integrá-la, produzindo novos sentidos, mas sempre se referindo a um passado pretensamente imutável. Desta forma, conforme Stuart Hall, mesmo com a constante fragmentação das identidades na modernidade e ainda que tensionada, a nacionalidade permanece constituindo “uma das principais fontes de identidade cultural” (p. 51). Enfim, é uma identidade que se realiza pelo desenho simbólico das fronteiras de um espaço limitado em que uma população imaginariamente coexiste, compartilhando uma hipotética realidade e construindo uma cultura que constitui um sistema de representações no qual a população identifica-se como povo. Em função de os nacionalismos estarem sujeitos ao caráter imaginário e simbólico das narrativas nacionais, as respectivas literaturas centralizam a elaboração desse sistema, conjugando a construção de uma identidade nacional
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