qual a relação entre ética e a tecnologia na sociedade contemporânea?
Soluções para a tarefa
A tecnologia invadiu as três atividades humanas fundamentais conforme a sistematização de Hannah Arendt. Labor, trabalho e ação foram completamente modificados no último século, a tal ponto que até a mais privada de todas as atividades humanas, o labor, tornou-se pública.
Se em outro tempo se poderia dizer que a condição humana do labor é a própria vida, ou seja, o processo biológico do corpo humano cujo desenvolvimento e declínio dependem da satisfação das atividades básicas atendidas pela atividade laborativa, hoje, este processo elementar já tem uma dependência íntima com o conhecimento tecnológico.
O homem mais humilde, desprovido de ambição do acúmulo de riqueza, vivendo numa sociedade razoavelmente organizada já não mais consegue cumprir apenas a sua atividade laborativa. As leis e diretrizes sociais obrigam-no a compromissos que o excedente da sua atividade laborativa não atenderá. A sua alimentação, que ele mesmo produz por meio de uma agricultura primitiva, talvez não consiga atingir um valor no mercado, de tal forma que, o excedente sendo vendido, não será suficiente para que ele pague as taxas e impostos da "sua propriedade". Até mesmo a água que ele bebe, seja de um poço, ou de um sistema de captação e distribuição, sofre um controle tecnológico. A sua composição deve ser avaliada por uma instituição tecnicamente competente. A quantidade de micróbios desta água tem de estar dentro de um limite aceitável. Ele pode até ser obrigado a se mudar do lugar que escolhera para viver, se os controladores do meio ambiente concluírem que o ar por ele respirado tem uma concentração muito alta de dióxido de carbono. O destino dos seus dejetos não mais lhe cabe decidir. Eles terão de ser encaminhados a um sistema adequado de drenagem e terminarão numa usina de compostagem, onde se transformarão em fertilizante biodegradável. No seu isolamento, sequer uma atitude estóica, de convivia com a dor, lhe é permitida. A dor, reflexo de uma enfermidade de causa desconhecida, implicará numa investigação profunda, para que se afaste o perigo de eclosão de uma endemia. Ele será radiografado, tomografado, sonorizado e ressonorizado magneticamente. Todos os líquidos do seu corpo serão cientificamente caracterizados. Ele poderá, ao fim de todos esses exames, ser geneticamente aconselhado a não ter filhos. A sua capacidade de reproduzir foi cerceada tecnicamente. Talvez ele possa até ter filhos, desde que a sua mulher faça um exame especial para afastar a possibilidade de uma segregação perigosa de gens. A tecnologia permite que ele "escolha adequadamente o seu objeto ideal. Melhor que os seus sentimentos".
Viver simplesmente a vida passou a ter um custo que a simples atividade laborativa não consegue atender. Em toda a história da humanidade, nenhum ditador, nenhum império exerceu um tamanho domínio sobre o homem. Não mais existe a possibilidade de se viver em contato com a natureza sem a pretensão de dela não se apropriar.
A ética do desenvolvimento tecnológico se fundamenta numa existência mais longa e mais prazeirosa. O prazer, no entanto, jamais é atingido numa atitude passivo. A tecnologia imposta, num sistema de acumulação de riqueza, perde seu significado ético, porque, de modo contraditório, gera um sofrimento infrene. O desenvolvimento tecnológico industrial nada tem a ver com um índio, que um dia à beira de um, rio, observando o seu curso, percebe que as escamas do peixe brilham sob a luz solar. Aprende a pescá-lo com a mão e corre para a sua taba, carregado de piramutabas. E difunde para toda a sua tribo a sua descoberta, além de com eles compartilhar o incremento da produtividade decorrente do progresso tecnológico. Singelamente aquele indígena definiu a subordinação da técnica ao modo de produção, o caráter ético, a função social e a apropriação social do progresso técnico.