qual a influência da mídia na atual conjuntura política do Brasil
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Gramsci já dizia que, em épocas de crise das tradicionais organizações partidárias de direita, a grande imprensa assumiria o papel de principal partido politico das forças conservadoras. No Brasil, pelo menos desde 2002, com a chegada do Partido dos Trabalhadores à presidência da República, a direita têm decaído progressivamente nas eleições. Sendo assim, impossibilitadas de voltar ao poder máximo da nação pelo voto popular, as principais lideranças conservadoras vêm buscando vias extraparlamentares, como a mídia e o Supremo Tribunal Federal, para influenciar nas principais decisões políticas do país.
Corroborando as teses gramscianas, a grande mídia brasileira (o oligopólio formado pelas famílias Marinho, Frias, Mesquita e Saad) vem promovendo uma intensa campanha contra o atual governo e, por outro lado, tem obliterado casos de corrupção envolvendo políticos da oposição.
Vejamos alguns exemplos recentes. Enquanto o julgamento da Ação Penal 470, mais conhecida como “mensalão petista”, teve ampla cobertura midiática (com o ministro Joaquim Barbosa alçado ao status de herói nacional), o chamado “mensalão tucano”, encabeçado por Eduardo Azeredo, praticamente não foi mencionado nos principais veículos da imprensa tupiniquim. A mesma mídia que noticia sistematicamente a polêmica compra de uma refinaria em Pasadena (EUA) pela Petrobrás, se calou diante das irregularidades ocorridas nas privatizações realizadas pelo governo FHC.
Já as notícias sobre as relações do doleiro Alberto Yousseff com políticos governistas e oposicionistas demonstram claramente o verdadeiro direcionamento ideológico da mídia hegemônica. Após uma reportagem da Folha de S.Paulo que denunciou os negócios ilícitos entre Alberto e o deputado petista André Vargas, teve início uma intensa campanha midiática para que o caso fosse devidamente apurado. Tais atitudes seriam extremamente elogiáveis se fossem aplicadas a qualquer tipo de situação.
Objetivos políticos
Pois bem, de acordo com investigações realizadas pela prefeitura de Maringá (PR), o doleiro em questão também é acusado de financiar campanhas de vários políticos paranaenses, entre eles o senador Álvaro Dias, do PSDB. Entretanto, sobre este assunto nenhuma palavra na mídia hegemônica. Dois pesos, duas medidas. Por que não há denúncias na imprensa contra o político tucano?
Portanto, não é preciso um extenso exercício hermenêutico para constatar o caráter tendencioso da grande mídia brasileira. Evidentemente que não há discurso que seja completamente neutro. Contudo, lembrando um clássico pensamento de Alberto Dines, a imprensa de nosso país transforma meras reportagens em verdadeiros editoriais. Coberturas jornalísticas que deveriam se limitar apenas à transmissão de informações ou a relatos dos fatos tornam-se, sob o prisma midiático, mecanismos para escoar uma determinada agenda política.
Em suma, a “campanha anticorrupção” promovida pelos grandes veículos de comunicação, apesar de aparentemente bem intencionada, não possui objetivos morais, mas exclusivamente políticos. Trata-se somente de uma ofensiva de setores direitistas contra o governo do PT e tem como principal escopo fazer com que os tradicionais partidos que representam as forças conservadoras retomem seus cargos que foram perdidos nos últimos processos eleitorais. Diante dessa realidade, não é por acaso que o acrônimo PIG – partido da imprensa golpista – tem estado cada vez mais em voga no Brasil.
“Coronelismo midiático”
Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores, ao buscar se perpetuar no poder máximo da nação, atrelou-se ao que há de mais reacionário na política nacional e assim, ao contrário dos governos venezuelano e argentino, nada pode fazer para acabar com a vergonhosa concentração midiática que há em nosso país.
Desse modo, diante da inércia governamental, é preciso que os setores progressistas se engajem em campanhas que reivindiquem a completa democratização dos meios de comunicação para que os diferentes segmentos sociais possam construir (como afirmava o supracitado Gramsci) seus próprios mecanismos de contra hegemonia.
Em última instância, uma verdadeira democracia passa, indubitavelmente, pelo fim do “coronelismo midiático”.