Qual a importância do pensamento de Octavio Ianni e de Luiz Antônio Machado da Silva para a sociologia brasileira?
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Resposta:
Existe uma espécie de eclipse geracional que torna tanto quanto nebuloso um importante período de franca institucionalização da vida acadêmica da sociologia uspiana. Entre 1969 e 1979, figuras como Luiz Pereira e Maria-lice M. Foracchi - além de outros jovens professores, ainda hoje na ativa, razão pela qual, talvez, menos vitimados pelos lapsos da memória universitária - arcaram com o ônus da aglutinação e da redefinição da unidade do pequeno grupo de professores da antiga cadeira de Sociologia I da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
O roteiro abaixo foi elaborado durante a fase preliminar de uma pesquisa que teve como objeto a trajetória intelectual e a obra de Luiz Pereira (1933-1985). Nos exíguos depoimentos publicados sobre a figura de Luiz Pereira, o que mais sobressai é a imagem do professor zeloso de seu ofício, antes de qualquer outra qualificação. Isso quase que impôs, na construção deste roteiro, três ordens de clivagens para a condução das entrevistas: a) uma primeira parte contemplando informações gerais sobre o homem e seu ofício; b) outra sobre seu papel dentro da instituição universitária após a aposentadoria compulsória de seus pares pelo regime militar; e, por fim c) sobre o pesquisador, o lugar e a relevância de suas contribuições às ciências sociais.
Não obstante, as questões formuladas contemplam pouco espaço para uma leitura imanente das obras de Luiz Pereira, preocupando-se com maior frequência com aspectos biográficos do que com aspectos propriamente teóricos ou metodológicos de sua produção. Não há dúvida de que, falando de um ponto de vista estritamente sociológico, a mera curiosidade biográfica tem pouco ou nulo alcance teórico. Ela só encontra significação e relevância naquilo que permita captar formas típicas de sensibilidade às solicitações do meio social em determinadas configurações histórico-sociais concretas (cf. Fernandes, 1960a, pp. 360-381).
Nesse sentido, as entrevistas realizadas deviam servir como instrumento de coleta de elementos que permitissem selecionar instâncias empíricas relevantes para compreender as origens e o desenvolvimento da crise de reprodução de certo "padrão de trabalho científico" patrocinado pela antiga cadeira de Sociologia I, e, assim, "assegurar [...] o acesso às dimensões mais ocultas ou de difícil acesso nas relações sociais" (Martins, 1998, p. 91), que possibilitassem situar Luiz Pereira num dentre outros casos típicos representativos de ajuste dinâmico à situação crítica enfrentada pelas ciências sociais uspianas após o golpe de 1964, de modo que a trajetória deste sociólogo remanescente do grupo de Florestan Fernandes pudesse ilustrar, pelas contradições a ela inerentes, os dilemas e as transformações sociais que alcançaram o destino da história da sociologia paulista em seguida às cassações que atingiram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 1969.