Geografia, perguntado por marinacdemorais, 9 meses atrás

Qual a importância de uma identidade latina para o desenvolvimento econômica do continente?

Soluções para a tarefa

Respondido por sarapereira38
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A identidade latino-americana como campo de investigação é um vasto território que permite a elaboração de inúmeras reflexões contraditórias. Diferentemente de outras regiões do mundo em que grupos humanos constituíram identidades nacionais com uma língua, valores e práticas comuns, resultando posteriormente a constituição de estados nacionais; na América Latina deu-se o inverso: o processo de independência colonial e fragmentação dos países levou primeiro ao surgimento dos Estados e posteriormente à pergunta pela identidade e pelos projetos nacionais. Na história oficial desta região do globo, o que distingue as "nações" - que, em geral, falam a mesma língua, possuem composições étnicas e crenças semelhantes, mais identidades do que diferenças - é a demarcação territorial. Em muitos casos a identificação do nacional é desdobrada da memória dos conflitos na disputa por territórios com países limítrofes, emergindo os heróis da história oficial.

A pergunta pela identidade latino-americana é valiosa quando se espera como resposta não um conceito formal que abarque a identidade de inúmeras nações, etnias e subgrupos, mas quando nos leva a descobrir os traços estruturalmente comuns de alienação, dominação e exclusão de milhões de pessoas, quais são os seus mecanismos geradores, nacionais e internacionais; bem como, quais são as ações desenvolvidas pelos inúmeros movimentos sociais-populares, partidos políticos, movimentos culturais e outros grupos de resistência e de enfrentamento a tais processos.

Tal investigação é valiosa quando recupera de cada cultura elementos que lhe são singulares e que, nesta singularidade, afirmam facetas da realização humana em sua dignidade, em sua potencialidade criadora, que nos possibilitam reconstruir nossa sensibilidade estética e ética face ao mistério e ao desconhecido de cada outro.

Investigando as utopias de cada movimento social que luta pela realização de justas aspirações populares, podemos construir utopias cada vez mais coletivas que visem a realização de inúmeras singularidades do autenticamente humano.

Assim, a pergunta pela identidade latino-americana, para que não caia em um círculo estéril, necessita entroncar-se com a práxis de libertação popular. A tomada de consciência de nossa realidade, nossa circunstância, nossa história, das múltiplas determinações de nossa subjetividade não pode levar a uma mistificação ou apenas a movimentos superficiais de integração. Para que o discurso sobre a integração latino-americana não permaneça apenas uma peça ideológica que justifique o movimento de concentração e internacionalização dos capitais, ele deve evidenciar a condição de seres-negados em que se encontram as maiorias latino-americanas, subsumidas por este mesmo capitalismo que a cada dia mais nos empobrece. Deve evidenciar elementos das utopias dos movimentos populares que possam ser articulados em um grande projeto de Nuestra América, de realização da plenitude humana de cada rosto latino-americano. Deve apontar para iniciativas conjuntas de nossos países no tratamento de nossos problemas estruturais como a concentração de riqueza, a pobreza, a divida externa, a concentração fundiária, a não democratização dos meios de comunicação, etc. De outra parte, a convivência de inúmeras raças, culturas, religiosidades, práticas singularizantes em uma democracia substancial que garanta as condições materiais para o exercício mais plenamente possível da liberdade de cada pessoa é, talvez, a grande utopia que a América Latina venha dolorosamente buscando realizar e que possa oferecer como objetivo estratégico a todos os povos do mundo.

Atendo-se a essas coordenadas, a reflexão filosófica sobre a identidade latino-americana poderá contribuir com o processo de integração de nossos povos e com a formulação de uma perspectiva histórica em que o Mercosul se torne uma das mediações estratégicas de um processo muito mais amplo voltado para a emancipação popular.

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