qual a importância da orquestra dos negros?
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Na época, os desfiles não eram bem-vistos pela elite e mídia. “Era comum a polícia invadir os desfiles. Diziam que eram vagabundos [os sambistas]. Certa vez, Cartola, para garantir o desfile da Mangueira, convidou o pessoal da Casa da Moeda, todos de terno. Quando a polícia chegou, viu os documentos e recuou. Os sambistas tiveram que provar que samba era cultura”, conta o compositor, radialista e pesquisador da cultura negra Rubem Confete, autor do enredo vencedor do carnaval de 1973, Uma Certa Negra Fulô, da escola paulista Camisa Verde e Branco.
Somente 40 anos depois dos primeiros desfiles, os sambas-enredo começaram a narrar a cultura negra. O jornalista, compositor e pesquisador da Música Popular Brasileira Sérgio Cabral lembra que até o fim dos anos 50 os contemplados eram personalidades da história oficial. “Figuras como Duque de Caxias, figuras da história. Depois, os enredos foram ficando mais progressistas”.
Escolas de samba comemoram o Dia Nacional do SambaArquivo/Agência Brasil
No início, os negros usavam perucas brancas, roupas com estilo europeu do século 18 e retratavam personagens que nem conheciam, explica o historiador e pesquisador da Música Popular Brasileira Ricardo Cravo Albin. “A partir dos anos de 1960, os desfilantes passaram a se auto referenciar, a homenagear a multidão que fazia a escola de samba e nunca era homenageada”.
Um dos pioneiros nos enredos sobre personagens da história negra foi o carnavalesco Fernando Pamplona. Em 1960, ele contou a história de Zumbi dos Palmares. “Além de Zumbi dos Palmares, Xica da Silva, Chico Rei são alguns enredos em que ele conta uma história do negro que não era contada. Até o próprio negro desconhecia”, destaca Rubem Confete.
Três anos depois, foi a vez de Pamplona e Arlindo Rodrigues marcarem época com o enredo Xica da Silva, com música composta por Anescar do Salgueiro e Noel Rosa de Oliveira. O samba resultou na primeira capa de manchete da revista Destaque, imortalizou Isabel Valença como intérprete principal, e ganhou prêmio do Theatro Municipal.
A história da escrava alforriada que se torna amante de um comprador de diamantes impactou quem assistiu ao desfile do Salgueiro, na Presidente Vargas, novo palco do carnaval na época. “Xica da Silva foi um enredo espetacular. A partir daí, o Salgueiro e outras escolas passaram a homenagear com frequência a cultura e a arte negras, seus personagens e definições”, lembra Albin.
“Finalmente, foram referenciados, reverenciados aqueles responsáveis pelo carnaval, que faziam a escola de samba ”.
Outros sambas marcantes foram Navio Negreiro, de Amado Régis e Djalma Sabiá, do Salgueiro (1957); o Negro na Senzala, de Darcy da Mangueira, da Unidos da Tijuca (1958); Leilão de Escravos, de Cici, Mauro Afonso e Urgel de Castro, da Unidos da Tijuca (1961); Magia Africana No Brasil e Seus Mistérios, de Gambazinho, da Unidos da Tijuca (1975); Sublime Pergaminho, de Carlinhos Madrugada, Nilton Russo e Zeca Melodia, da Unidos de Lucas (1968); Heróis da Liberdade, de Mano Décio da Viola, Manoel Ferreira e Silas de Oliveira, do Império Serrano (1969) e Valongo, de Djalma Sabiá, do Salgueiro (1976).
Para Albin, a explosão da negritude viria em 1988, com o desfile da Vila Isabel em homenagem a Zumbi dos Palmares - Kizomba, a Festa da Raça, vencedor do carnaval daquele ano. Temas como o apartheid na África do Sul, a abolição da escravatura, expressões do candomblé e rituais da cultura negra são citados na música. “Foi o desfile mais bonito de todos que assisti. E olha que assisto há 42 anos ininterruptos os desfiles das escolas de samba, tanto o samba quanto o desfile”, relembra.
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