Artes, perguntado por gfavaro60, 10 meses atrás

Qual a importância da cinética na história do cinema?

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Respondido por brunothiago819
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Resposta:Da nada primitiva arte do quadro silencioso

por Lila Foster

Para quem acompanhou a II Jornada Brasileiro de Cinema Silencioso fica a certeza de que, se existe alguma diferença no cinema produzido nas primeiras décadas da história do cinema, com certeza ela em nada se deve a uma simplicidade, primitivismo ou inocência do olhar. Definitivamente, estamos diante de filmes que têm os seus caminhos de expressão assentados em bases bem diferentes do que está acostumado o olhar contemporâneo: o tempo é diferente, os personagens falam, mas não escutamos. Narrativamente, é possível que se perca o fio da meada em um ou outro momento, como se faltasse ao filme (ou talvez ao espectador) um passo para se seguir o caminho. Se o cinema era diferente, como podemos articular essas diferenças? Ou melhor, como identificar uma força expressiva diferenciada em filmes específicos produzidos na era do cinema silencioso?

É certo que falta à maioria desses filmes o movimento, aqui considerado na sua dupla acepção. A decupagem não recorta a cena em diferentes planos e enquadramentos, fazendo com que os filmes não sejam montados pelo princípio da curta duração dos fragmentos. Os diálogos não são retratados em campo e contracampo; a câmera se encontra na maioria das vezes estática, fazendo com que saltem aos olhos os travellings laterais de A Cidade do Amor (Tomotaka Tasaka, 1928) e o movimento constante em Solidão (Pál Fejös, 1928), cuja dinâmica, o tema e os cenários podem nos levar a considerá-lo um filme hollywoodiano influenciado por filmes modernos sobre o frenesi das metrópoles nos anos 20.  

Porém, se aos filmes parece faltar movimento, essa “limitação” denota a importância de um fundamento básico do cinema: a formação do quadro. A própria concepção do que seja colocar objetos e pessoas em cena através do recorte do espaço fica mais evidente, como se realmente existisse algo de “primário”, no sentido de fundamental, no cinema dessa época. Nunca mais simples, nem primitivo ou amador, mas uma base, uma matéria-prima, o primeiro passo da expressão imagética, com maior valorização dos cenários (criados ou naturais) no quadro, da importância narrativa e estética da profundidade de campo, da disposição dos atores em diversos planos dentro de um mesmo enquadramento. Dentro dessa perspectiva, podemos tentar analisar com mais atenção quatro filmes que compuseram a programação da Jornada: Lucky Star (Frank Borzage, 1929 - foto acima), A Trindade Maldita (Tod Browning, 1925), Shiraz (Franz Osten, 1928) e Os Proscritos (Victor Sjöström, 1918).

Os dois primeiros foram feitos dentro do contexto de produção hollywoodiana (o primeiro pela Fox Film Corporation e o segundo pela Metro-Goldwyn-Mayer), o que nos ajuda a entender a necessidade de comunicação com o público. É impressionante perceber como esses filmes são capazes de enredar o espectador nas suas tramas e funcionam como verdadeiros representantes de gêneros – o drama romântico e o cinema de suspense/terror – que perduram com sucesso até hoje.

O contexto dos grandes estúdios também ajuda a entender a grandiosidade e a habilidade na construção do cenário de Lucky Star. É recriada em estúdio uma estrada na qual se localiza a casa dos dois personagens principais, a menina Mary e o jovem Timothy. Sem aparecer no mesmo plano, cada uma das casas é cercada por uma paisagem em perspectiva, simulando a relação espacial que existiria entre um morro atrás de uma casa ou a estrada que some no horizonte; até mesmo um riacho com água corrente é construído na frente da casa de Timothy. Além de provar a habilidade do estúdio, a grandiosidade do cenário permite que diversas ações ocorram num mesmo quadro e cena, mas em planos espaciais diferentes.  

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