Qual a diferença entre a humanidade e as civilizações
Soluções para a tarefa
Explicação:
Volta e meia me deparo com o entusiasmo dos tecno-otimistas. Agora, foi o Gil Giardelli (que é um cara espetacular) que respondeu sobre o assunto em uma entrevista ao Nós da Comunicação.
O pessoal dá uma cutucada nele e pergunta se ele não veria a web com otimismo demais. Lembraram de algumas pimentas que fico jogando nos tecno-otimistas – só por prazer. Já está virando um esporte aqui na rua.
Gosto do entusiasmo, mas fico provocando reflexões. Ele, como muitos outros, estão maravilhados (e com razão) com as possibilidades da Internet. Acabam extrapolando seu potencial e, a meu ver, por um motivo que é a confusão entre os conceitos de civilização e humanidade.
Assim, concordo com a euforia deles de que a civilização terá um upgrade com a chegada da rede. E temos realmente motivos para comemorar e até estarmos otimistas. Já vesti esta camisa e desfilei bastante pela rua com ela.
Que o mundo vai dar uma guinada, a meu ver, é quase uma questão matemática. Sete bilhões de pessoas precisam de um novo ambiente de conhecimento, mais horizontal, colaborativo, o que nos fará mudar toda a sociedade. Sem ele, não saímos da crise de inovação produtiva em que nos colocamos.
Porém, esse processo é algo que mexe com a nossa cognição, na ordem das necessidades humanas, no nosso lado material, profissional. Ou seja, é uma necessidade, um ajuste sistêmico e não uma evolução da humanidade em si, mas uma acerto na civilização mais povoada, mantendo os seus problemas intrínsecos na relação de cada um consigo mesmo e deste com os demais.
Mais computadores, ou mais Internet, nos fará conectar mais, mas não nos leva direto à comunicação (leiam Dominique Wolton). Pelo que vejo mais e mais por aí, ao contrário! (Vejo mais gente plugada e se alienando, do que o contrário. Estarei pessimista viajante?)
Separaria, assim, a civilização em algo concreto e necessário para vivermos, ligado à nossa cognição, pensamento, coisas práticas a serem resolvidas, obrigação.
E a humanidade, algo que é opcional, a partir das bases estabelecidas, que nos permitiria ir além, através de uma melhoria na nossa capacidade afetiva, de relacionamento e de comunicação.
A primeira é obrigatória e a segunda, opcional. A primeira é construída ao longo dos anos. A segunda renasce a cada dia. A primeira é conhecimento. A outra, sabedoria.
Obviamente que, quanto mais homogênea a civilização, mais humana é, mais sabedoria temos. É uma moeda de duas faces, uma vai com a outra. Mas apenas se conseguirmos sair da primeira, que é a mais fácil, e, paralelamente, nos ligarmos na segunda, a mais difícil.
Assim, considero que a civilização 2.0 será mais adequada ao novo número de habitantes, mas não é necessariamente melhor do que a anterior. É mais funcional, ponto!
Apostar tudo nessa direção é deixar de lado o esforço humano que temos que fazer em outra direção para tentar elevar a capacidade afetiva da humanidade. E isso passa pelo desenvolvimento do autoconhecimento, das nossas capacidades afetivas, da relação saudável com o ego, através da comunicação nós com nós mesmos e com os demais.
E não é algo que se chega nunca a um lugar, é um caminho, mas que se pode pender para um lado mais humano, a cada dia, tendo uma melhoria geral, ao longo da estrada, se refletindo na civilização de cada geração.
Ou seja, precisamos estar bem para resolver problemas. E não resolvermos problemas para estar bem. Ou ainda melhor, ir ficando bem e resolvendo problemas, para irmos adiante… E com envolvimento direto nos rumos da civilização, uma dando suporte a outra, pois sem condições básicas, com fome, por exemplo, ninguém consegue ter equilíbrio.
É ser transcedental no acidental do dia a dia. Difícil? Quem disse que é fácil? (Somos a seleção de milhares de espermatozóides que conseguiram ganhar a corrida na linha de chegada do óvulo).
Ou seja, a cada dia deveríamos acordar e lutar para levar o mundo com mais afeto e não no piloto automático, como a tecnologia sozinha nos faz crer. Esforço individual que, somado, pode vir a ser coletivo. Com menos ego e mais sentimento. Entre um equilíbrio do que deve ser feito com o como deve ser feito.
E este é o problema do tecno-otimismo: apostar que só a cognição vai nos salvar, como achavam, aliás, os iluministas do passado, quando surgiu o livro na sociedade. Consideravam: quanto mais livro, mais culto. E, por consequência, mais humanos seríamos.
Deu no que deu: Hitler mandou matar milhões de dentro de sua biblioteca de 36 mil exemplares, na qual devorava livros toda noite.