quais são os aspectos sociais do carnaval?
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Conhecido no imaginário mundial como o “país do carnaval”, o Brasil na realidade é o país dos “muitos carnavais”, cada um com suas especificidades, apesar do compartilhamento de traços comuns. Fornecendo a sensação de estabilidade, típica da temporalidade do calendário cristão, em um mundo sujeito a muitas transformações, teve importância fundamental na formação cultural do povo brasileiro, incorporando grupos sociais distintos. Misturando o sagrado e o profano, o carnaval suspende temporariamente um cotidiano monótono, ditado pela lógica da produção e do trabalho, e polariza com as regulações da Quaresma.
Constitui um momento de inversão social, em que o indivíduo tem a liberdade de dizer e fazer coisas que em outras épocas do ano lhe são interditadas. As hierarquias sociais são questionadas, para logo a seguir serem reafirmadas. O indivíduo se perde no êxtase coletivo. Inovações são incorporadas ou não dependendo das reações da força social que fazem a festa. Os folguedos de rua, associados à baderna, à algazarra, ao passado colonial e escravagista sobrevivem, assim, às tentativas das elites, no começo do século XX, de impor um modelo de carnaval civilizado, inspirado no carnaval francês de Nice.
Já nos dias de hoje, a lógica cultural do carnaval muitas vezes entra em conflito com interesses de ordem mercantil e turística. Tradições são “inventadas” ou “reinventadas” pelos blocos, afoxés e escolas de samba, em um processo contínuo de disputa e negociação desses grupos, que se comunicam e trocam experiências. Essas serão algumas das questões abordadas na palestra “Os aspectos socioculturais do carnaval”, ministrada pelo professor Paulo Miguez.