Português, perguntado por MaduAviz, 10 meses atrás

Quais são as principais características e diferenças entre Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu?

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Respondido por aliceaureliano2020
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Resposta:

Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu - ultrarromânticos por excelência

CURTIDAS

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Casimiro de Abreu (à direita) e Álvares de Azevedo (à esquerda) – principais representantes do ultrarromantismo

Eis que nos deparamos com dois grandes representantes da segunda geração romântica. Ambos, ao lado de Fagundes Varela e Junqueira Freire abrilhantaram a produção poética do período em questão. Partindo desse pressuposto, situemo-nos ao título do artigo que ressalta acerca de um termo passível de questionamentos – “ultrarromânticos”. Qual seria o motivo para tal denominação?

É bem possível que possamos apreender perfeitamente após nos situarmos diante das características que nortearam toda a temática pertencente ao Romantismo. E, diga-se de passagem, a de maior relevância foi a temática voltada para o amor. Ideologicamente, ele foi concebido por quase todos os representantes românticos como uma espécie de regenerador do caráter humano: o indivíduo adquire ou recupera sua dignidade por meio dele, ou seja, quando lhe faltam virtudes, estas são recuperadas pelo fenômeno amoroso. Ao nos referirmos sobre o caráter, é bom que se diga que este não se relaciona à moral, mas sim à tentativa de recuperação dos próprios valores.

No intento de compreendermos tal afirmativa, façamos uma breve retomada ao contexto histórico daquela época. Durante um significativo período, o Brasil esteve sob o comando dos poderes lusitanos e, somente com a Proclamação da Independência, é que a situação se reverteu. Diante disso, fazia-se necessário uma reversão no cenário cultural brasileiro, no intuito de valorizar suas raízes como um todo. Daí que os artistas se propuseram a criar uma literatura genuinamente nacional.

Foi subsidiado neste propósito, somado a um notável sentimento subjetivo e exacerbado, pessimista e melancólico que os poetas revelaram toda sua habilidade imaginativa. E, por assim dizer, a melancolia foi a mola-mestra de todas as criações referentes à segunda fase, a qual enfatizaremos veementemente a partir de agora. Voltando ao aspecto ultrarromântico, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu cultivaram-no em todas as suas obras, observemos:

Lembrança de morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra

Que o espírito enlaça à dor vivente,

Não derramem por mim nem uma lágrima

Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura

A flor do vale que adormece ao vento:

Não quero que uma nota de alegria

Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro

— Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

[...]

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda

É pela virgem que sonhei... que nunca

Aos lábios me encostou a face linda!

Álvares de Azevedo

Detectamos que o poeta se mostra pessimista frente à realidade cotidiana, impregnado por instinto tedioso, abnegado de qualquer esperança. O sonho e o devaneio, características marcantes da estética em voga, também ocupam posição de destaque, é o que podemos conferir em:

Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro

— Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Outro aspecto notório é a figura feminina que, segundo a ótica do artista, é concebida como algo platônico, imaterial e intocável, cujas virtudes se aproximam do poder divinal. Desta feita, percebemos que platonismo e sensualidade parecem fundir-se mutuamente, resultando, portanto, em um medo de amar. Como bem nos revela o excerto que segue:

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda

É pela virgem que sonhei... que nunca

Aos lábios me encostou a face linda!

Adentraremos, pois, na magia expressa pelos versos de Casimiro de Abreu:

Amor e medo

Quando eu te vejo e me desvio cauto

Da luz de fogo que te cerca, ó bela,

Contigo dizes, suspirando amores:

— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

Como te enganas! meu amor, é chama

Que se alimenta no voraz segredo,

E se te fujo é que te adoro louco...

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,

Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.

Das folhas secas, do chorar das fontes,

Das horas longas a correr velozes.

[...]

Todos os pressupostos acima mencionados também se fazem presentes diante desta criação poética. Notamos que a figura da mulher parece tocar os sentimentos do poeta, tentando-o. Entretanto, tal sentimento parece aos poucos se esvair mediante a impossibilidade de possuí-la:

Quando eu te vejo e me desvio cauto

Da luz de fogo que te cerca, ó bela,

Contigo dizes, suspirando amores:

— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!".

O mesmo medo de se entregar ao amor, manifestado primeiramente por Álvares de Azevedo, evidencia-se de modo enfático em Casimiro. Como em:

Como te enganas! meu amor, é chama

Que se alimenta no voraz segredo,

E se te fujo é que te adoro louco...

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Explicação:

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