Quais são as medidas adotadas para contornar os problemas da crise hídrica da região Nordeste?
Soluções para a tarefa
Em momentos de crise, o famoso clichê "faça a sua parte" vale mais do que nunca. Os consumidores precisam reduzir o desperdício e utilizar menos água. Mas o peso não pode cair todo nas costas dos cidadãos. O poder público deve criar medidas de incentivo para isso. O bônus para os consumidores que economizaram água já está em curso em São Paulo, mas tem efeito limitado. ONGs defendem uma proposta um pouco mais impopular: multar o consumo excessivo. A medida é polêmica e o governo paulista anunciou que não pretende colocá-la em prática.
O governo precisa assegurar que todas as faixas de renda e consumo tenham acesso à água, mesmo em situações de rodízio ou racionamento. Consumidores de maior poder aquisitivo ou grandes empresas podem buscar alternativas, como perfurar poços ou comprar caminhões-pipa. Consumidores de baixa renda não têm essa possibilidade e sofrem mais com os cortes de água.
A crise da água pode desencadear problemas sérios de saúde pública. Uma das preocupações é com os cortes e racionamento. Ao diminuir a pressão da água, possíveis furos ou buracos nos encanamentos podem permitir que a água se contamine no caminho de casa. Outra preocupação é na forma como as famílias armazenam a água da chuva. Deixar em baldes ou recipientes abertos pode ser um perigo no combate a doenças como a dengue (ou o novo vírus chikungunya). O poder público precisa preparar uma forte campanha para conscientiz
Tem racionamento ou não tem? Não faltam críticas para a forma como o governo Geraldo Alckmin conduz a crise da água, e uma delas é na questão da transparência. É difícil conseguir as informações sobre o que está de fato ocorrendo, com uma série de denúncias de um "racionamento não oficial". O governo, a Sabesp e as prefeituras precisam ser mais transparentes, divulgando para a população os locais e horários de onde pode faltar água para permitir que a população se prepare.
Um ponto em comum nas análises de vários especialistas em segurança hídrica é de que já se sabia que São Paulo estava em uma situação frágil no abastecimento. Em 2004, por exemplo, houve uma seca muito grave e foram feitos projetos para ampliar o sistema. Esses projetos não saíram do papel, principalmente por conta da burocracia e da falsa sensação de segurança após anos muito chuvosos, como 2010 e 2011. Essas medidas precisam ser implementadas, e devem ser pensadas não apenas em momentos de crise, mas principalmente quando a situação do abastecimento for normalizada.
Um estudo do Instituto Trata Brasil mostra que São Paulo perde mais de 30% da água durante a distribuição. A maior parte é causada por vazamentos nos canos e tubulações, mas uma quantidade considerável dessa água se perde por ligações ilegais. Os governos e a Sabesp precisam apresentar políticas de redução de perdas, com metas progressivas, e acabar com o desvio irregular de água
Há vários indícios de que, se as matas e florestas brasileiras não estivessem tão degradadas, São Paulo conseguiria resistir melhor à estiagem. As árvores evitam o assoreamento de rios e represas e regulam o clima. Um levantamento mostrou, por exemplo, que a Mata Atlântica está muito mais desmatada na região da Cantareira do que se acreditava antes. Reflorestar é urgente, e o resultado é muito rápido: a cidade de Extrema, em Minas Gerais, pagou para que proprietários reflorestassem as nascentes, e hoje enfrenta a estiagem sem o risco de desabastecimento.
O anúncio de que o governo de São Paulo faria obras para utilizar a água de reúso não foi bem recebido. Para alguns, parece que a Sabesp vai misturar esgoto com água de abastecimento. Não é bem assim. O esgoto tratado pode sim ser usado em muitas situações. Essa água já é utilizada para limpar ruas e parques após eventos ou uma feira, por exemplo. Não faria sentido fazer isso com água potável. Outra medida importante é captar a água da chuva. Hoje, essa água escorre para os rios, que estão poluídos, e se mistura ao esgoto. Um grande desperdício para o abastecimento.
O cartunista Laerte Coutinho, em sua conta no Twitter, sintetizou com clareza o problema: "Quando eu penso que S. Paulo está no meio de 2 rios nada secos e que os transformou em esgoto...". Os paulistanos não podem utilizar as águas do Tietê, do Pinheiros, do Tamanduateí e de vários outros córregos na cidade, destruídos pela poluição – desde esgoto urbano até "ilhas" de plástico e latas que são jogadas sem pudor nas ruas. Despoluir os rios é mais do que urgente. É um processo difícil, caro e demorado, mas precisa ser feito, e já há tecnologia disponível para isso. Enquanto isso, os cidadãos precisam parar de jogar lixo na rua. Nem que seja por força da lei, como a multa que a cidade do Rio de janeiro implantou