quais sao as diferenças e semelhanças entre o que Norbert Elias e que Pierre Bordieu pensam sobre a relaçao entre individuo e sociedade
Soluções para a tarefa
Norbert Elias, em A Sociedade dos Indivíduos, realiza uma exaustiva análise da relação entre indivíduo e sociedade e busca apresentar, no interior desta análise, uma visão alternativa desta questão, superando tanto o “individualismo” quanto o “holismo”. O nosso objetivo aqui é apresentar uma abordagem crítica da “sociologia processual” de Norbert Elias, pois, ao nosso ver, o desenvolvimento da consciência humana ocorre através de um amplo processo marcado pela crítica, autocrítica, debate e contradições e, neste sentido, a mera contemplação manteria o saber no mesmo estágio, o que significa uma situação estática e isso é indesejável para o desenvolvimento da consciência humana.
A SOCIOLOGIA PROCESSUAL DE NORBERT ELIAS
Norbert Elias questiona o sentido usual dos termos “indivíduo” e “sociedade”. O que é o indivíduo? O que é a sociedade? Como se relaciona indivíduo e sociedade? São questões complexas que Elias busca dar uma nova resposta, contrapondo-se, assim, a duas concepções amplamente conhecidas: a “individualista” e a “coletivista” (ou “holista”). Até que ponto Elias consegue superar estas duas concepções? É isto que buscaremos descobrir mais adiante.
Elias resume as concepções individualista e holista da seguinte forma: “Parte das pessoas aborda as formações sócio-históricas como se tivessem sido concebidas, planejadas e criadas, tal como agora se apresentam ao observador retrospectivo, por diversos indivíduos ou organismos. Alguns indivíduos, dentro desse campo geral, talvez tenham certo nível de consciência de que esse tipo de resposta realmente não é satisfatório. É que, por mais que distorçam suas idéias de modo a fazê-las corresponderem aos fatos, o modelo conceitual a que estão presos continua a ser o da criação racional e deliberada de uma obra - como um prédio ou uma máquina - por pessoas individuais. Quando têm à sua frente instituições sociais específicas, como os parlamentos, a polícia, os bancos, os impostos ou seja lá o que for, eles procuram, para explicá-las, as pessoas que originalmente criaram tais instituições. Ao lidarem com um gênero literário, buscam o escritor que constituiu o que os outros seguiram como modelo. Ao depararem com formações em que esse tipo de explicação é difícil - a linguagem ou o Estado, por exemplo -, ao menos procedem como se essas formações sociais pudessem ser deliberadamente produzidas por pessoas isoladas para fins específicos. Podem argumentar, por exemplo, que a finalidade da linguagem é a comunicação, ou que a finalidade do Estado é a manutenção da ordem - como se, no curso da história da humanidade, a linguagem ou a organização de associações específicas de pessoas sob forma de Estados tivesse sido deliberadamente criada para esse fim específico por indivíduos isolados, como resultado de um pensamento racional. E, com bastante freqüência, ao serem confrontados com fenômenos sociais que obviamente não podem ser explicados por esse modelo, como é o caso da evolução dos estilos artísticos ou do processo civilizador, seu pensamento estanca. Param de formular perguntas”[1].
Ele afirma, continuando sua caracterização do holismo e do individualismo, que o holismo “despreza essa maneira de abordar as formações históricas e sociais. Para seus integrantes, o indivíduo não desempenha papel algum. Seus modelos conceituais são primordialmente extraídos das ciências naturais; em particular, da biologia. Mas nesse caso, como tantas vezes acontece, os modos científicos de pensamento misturam-se, fácil e imperceptivelmente, com os modos religiosos e metafísicos, formando uma perfeita unidade. A sociedade é concebida, por exemplo, como uma entidade orgânica supra-individual que avança inelutavelmente para a morte, atravessando etapas de juventude, maturidade e velhice. As idéias de Spengler constituem bom exemplo dessa maneira de pensar, mas hoje se encontram noções análogas, independentemente dele, nos mais variados matizes e cores. E, ainda quando na se vêem levados, por força das experiências de nossa época, ao equívoco de conceber uma teoria geral da ascensão e declínio das sociedades como algo inevitável, ainda quando antevêem um futuro melhor para a nossa sociedade, até os adversários dessa perspectiva spengleriana compartilham - por estarem dentro desse mesmo campo - uma abordagem que tenta explicar formações e processos sócio-históricos pela influência de forças supra-individuais anônimas”[2].
Desta forma, uns privilegiam o indivíduo, enquanto que outros privilegiam a sociedade. mas, para Elias, o importante é superar esta antinomia entre indivíduo e sociedade. Na verdade, segundo ele, não há um abismo que os separa, pois, “ninguém duvida de que os indivíduos formam a sociedade ou de que toda sociedade é uma sociedade de indivíduos”[3].