Artes, perguntado por muriaemirellapereira, 8 meses atrás

quais os cursos oferecidos na academia de cordel?

Soluções para a tarefa

Respondido por pedroiagob
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01. O início

A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se inaceitavelmente, outros, demasiado breves. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última palavra do seu verso com a última do parceiro, mais ou menos assim:

Repentista A – O cantor que pegá-lo de revés

Com o talento que tenho no meu braço…

Repentista B – Dou-lhe tanto que deixo num bagaço

Só de murro, de soco e ponta-pés.

 

02. Parcela ou Verso de quatro sílabas

A parcela ou verso de quatro sílabas é o mais curto conhecido na literatura de cordel. A própria palavra não pode ser longa do contrário ela sozinha ultrapassaria os limites da métrica e o verso sairia de pé quebrado. A literatura de cordel por ser lida e ou cantada é muito exigente com questão da métrica. Vejamos uma estrofe de versos de quatro sílabas, ou parcela.

Eu sou judeu

para o duelo

cantar martelo

queria eu

o pau bateu

subiu poeira

aqui na feira

não fica gente

queimo a semente

da bananeira.

Quando os repentistas cantavam parcela (sim, cantavam, porque esta modalidade caiu em desuso), os versos brotavam numa seqüência alucinante, cada um querendo confundir mais rapida mente o oponente. Esta modalidade é pre-galdiniana, não se conhecendo seu autor.

 

03. Verso de cinco sílabas

Já a parcela de cinco sílabas é mais recente, e não há registro de sua presença antes de Firmino Teixeira do Amaral, cunhado de Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo. A parcela de cinco sílabas era cantada também em ritmo acelerado, exigindo do repentista, grande rapidez de raciocínio. Na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de Firmino Teixeira do Amaral, encontramos estas estrofes:

Pretinho:

no sertão eu peguei

um cego malcriado

danei-lhe o machado

caiu, eu sangrei

o couro tirei

em regra de escala

espichei numa sala

puxei para um beco

depois dele seco

fiz dele uma mala

Cego:

Negro, és monturo

Molambo rasgado

Cachimbo apagado

Recanto de muro

Negro sem futuro

Perna de tição

Boca de porão

Beiço de gamela

Venta de moela

Moleque ladrão

Estas modalidades, entretanto, não foram as primeiras na literatura de cordel. Ao contrário, ela vieram quase um século depois das primeiras manifestações mais rudimentares que permitiram, inicialmente, as estrofes de quatro versos de sete sílabas.

 

04. Estrofes de quatro versos de sete sílabas

O Mergulhão quando canta

Incha a veia do pescoço

Parece um cachorro velho

Quando está roendo osso.

Não tenho medo do homem

Nem do ronco que ele tem

Um besouro também ronca

Vou olhar não é ninguém

A evolução desta modalidade se deu naturalmente. Vejamos a última estrofe de quatro versos acrescida de mais dois, formando a nossa atual e definitiva sextilha:

Meu avô tinha um ditado

meu pai dizia também:

não tenho medo do homem

nem do ronco que ele tem

um besouro também ronca

vou olhar não é ninguém.

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