Quais os aspectos mitológicos e aspectos filosóficos do filme "A Vila"?
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Resposta:
O filme A Vila retrata uma sociedade de 1867, extremamente coletivista, na qual todos colaboram, vivendo de forma harmônica e preservando sentimentos bons e puros, principalmente a inocência. O intuito de criar a vila veio de um grupo de pessoas, que, infelizes com suas vidas nas cidades, resolvem morar em uma sociedade paralela, baseada em costumes e aprendizados diferentes dos difundidos anteriormente. Esse grupo é formado pelos anciões, que são responsáveis por a vila a qualquer custo. Para isso, se utilizam de meios não tão bondosos, no caso, o medo. Afirmam haver criaturas na floresta que, se caso os limites territoriais da vila fossem ultrapassados, essas criaturas os atacariam.. Portanto, os moradores da vila ficavam incapacitados de chegar às cidades, pois as criaturas não permitiriam sua chegada. A vila parece um lugar perfeito, mas qual o preço dessa perfeição?
Explicação:
O modo como a vila funciona se assemelha em alguns aspectos com o comunismo de Karl Marx. Tanto na vila quanto no comunismo, não há Estado e, consequentemente, não há leis; há um intenso coletivismo, no qual, o bem comum se sobrepõe sobre o bem individual; não existe dinheiro, excluindo qualquer ideia de lucro, meritocracia e desigualdade social, visando à igualdade econômica, pois tanto na visão de Karl Marx como na dos anciões ‘’o dinheiro corrompe o homem’’. No entanto, percebemos que a vila não é um comunismo e sim uma tentativa de colocá-lo em prática, pois um dos requisitos essenciais de uma sociedade comunista é a inexistência de ideologia (na visão de marxista- falsa consciência) não havendo, consequentemente, nenhuma forma de alienação. O problema é exatamente esse, na vila há uma forma de ideologia, pois os anciões impõem aos demais um discurso de ódio contra as cidades, dizendo serem ‘’lugares maus onde pessoas más vivem’’, e uma alienação repressora, aplicada através do medo das criaturas, impossibilitando qualquer forma de liberdade ou um real conhecimento de sua situação. Para Michel Foucault, no Estado o poder era centralizado, e, em outras instituições, como a escola, o poder era descentralizado. Na vila não há Estado, mas existe uma escola, e, a maneira como esta funciona é exatamente igual à descrição que Foucault da a ela: lugar contraditório onde, ao mesmo tempo em que transmite conhecimento, possui um caráter repressivo. A escola era, na vila, a forma de transmitir a ideologia, alienar e disciplinar as pessoas. Assim, para Michel Foucault, uma sociedade sem Estado é possível, mas jamais existirá uma sociedade sem poder (sua inexistência seria a única forma de libertar o homem). É exatamente isso que vimos na vila, um poder e uma forma hierárquica presentes, mas mascarados, tornando-se imperceptíveis pelos seus moradores, destruindo qualquer ideia de igualdade de fato.