quais foram os impactos sociais e economicos da gripe espanholha?
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Resposta: É importante levar em conta que a gripe espanhola teve impacto negativo nos níveis de atividade econômica, emprego e renda nos países europeus e nos Estados Unidos no curto prazo, mas há que considerar que a economia européia tinha sido vilipendiada pela guerra quando a pandemia se inicia, o que faz com que os efeitos econômcos das duas crises – a provocada pela guerra e a gripe espanhola – se confundam em 1918 e 1919. Embora os dados econômicos da época sejam escassos, alguns estimam que o impacto negativo da gripe espanhola no PIB mundial foi de 6%, e no consumo agregado, este impacto chegou a 8%[5]. Cerca de doze países sofreram desastres macroeconômicos baseados na queda do PIB e oito sofreram desastres similares baseados na queda do consumo. Isto tornaria a gripe espanhola o quarto evento com maior impacto econômico negativo desde 1870. Os tres primeiros foram a 2ª. guerra mundial, a grande depressão dos anos 1930 e a 1ª. guerra mundial.
Manchetes dos jornais da época comentavam que a gripe espanhola teve um impacto adverso no mercado de trabalho, dado que trazia uma taxa de mortalidade maior entre as pessoas em idade ativa (15 a 49 anos de idade) levando muitos trabalhadores que estavam no auge de suas vidas laborais à morte precoce. Isto certamente foi uma barreira para a recuperação à curto prazo dos níveis de pobreza na Europa que já eram altos em decorrência da guerra.
Mesmo os países que ficaram neutros na guerra, como a Suécia por exemplo, relatam um aumento dos domicílios em condições de pobreza, dado que cada morte causada pela pandemia entre chefes de família levava três pessoas adicionais para condições de pobreza. Efeitos negativos no caso da Suécia, tambem foram conhecidos nos ganhos de capital, mas não ocorreram em rendimentos em geral. A escassez de mão de obra propiciada pela pandemia levou a um subsequente aumento dos salários e dos rendimentos nos pequenos negócios.
No caso dos Estados Unidos, o gráfico abaixo mostra o impacto da gripe espanhola no nivel de renda per-capita ajustado pela inflação. Verifica-se que o nível de renda que vinha crescendo em 1917 se estagna em 1918, seguido de uma queda em 1919 que foi o ano onde o impacto econômico da segunda onda da pandemia ocorreu com maior intensidade. A estagnação econômica continuou em 1920, provavelmente por efeitos da pandemia associados ao mercado de trabalho. Mas mesmo assim há claras razões para pensar que a gripe espanhola teve menos impacto econômico do que uma grande pandemia teria agora. Se por um lado, a reorganização da indústria trazida pela guerra gerava mais trabalho para todos, apesar de certas indústrias sofrerem grandes perdas, por outro, a elevada mortalidade de trabalhadores trazida pela gripe fez os salários subirem para aqueles que sobreviveram.
Apesar dos efeitos a curto prazo, a gripe espanhola teve poucos impactos econômicos negativos a longo prazo. A partir de 1921 se inicia um período de prosperidade na economia norte-americana.
Outro ponto a destacar é que, surpreendentemente, o mercado de ações foi pouco afetado pelo surto de gripe espanhola, como demonstra o gráfico acima, refletindo a movimentação do índice Down Jones entre 1918 e 1919. Obviamente, a guerra já havia reduzido o comércio exterior e rompido cadeias produtivas globais por um longo período de tempo. A gripe espanhola se iniciou em 1918 e o fim da guerra teve um impacto positivo no mercado de capitais, minimizando os efeitos negativos da gripe que se iniciava ao final do conflito. A segunda e pior onda de gripe ocorreu no final da guerra, quando a paz foi finalmente alcançada após quatro anos de destruição devastadora.
A euforia com o fim da guerra eclipsou eventuais preocupações com a gripe espanhola entre os governos, a sociedade e os mercados. Quando a onda final da gripe espanhola desapareceu em fevereiro de 1919, o índice Dow Jones teve um aumento de 50%, que durou até novembro de 1919. Se esse aumento ocorreu por causa do fim da guerra, do fim da gripe ou das duas coisas é impossível saber, mas certamente havia algum nível de confiança que pode alavancar a recuperação econômica.