Quais foram as conseqüências culturais e científicas ligadas ao invento do germânico Gutemberg?
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Resposta:
GUTENBERG e a imprensa de há muito vêm sendo celebrados. Desde o século XVI a máquina impressora é descrita como tendo literalmente marcado uma época. Tem sido vista como o símbolo de uma nova era, associada com freqüência à pólvora (outra invenção atribuída aos alemães) e às vezes também à bússola. Francis Bacon vinculava a imprensa ao progresso do conhecimento (o advancement of learning, segundo suas palavras), ao ideal da pansofia e ao sonho utópico de anular as conseqüências do pecado original.
A idéia de comemorar centenários com celebrações festivas era extremamente rara antes de 1617, ano em que os protestantes alemães celebraram o centenário da afixação em Wittenberg das famosas teses de Martinho Lutero. Mesmo assim, uma celebração semelhante aconteceu em 1640, ano que se acreditava marcar o bicentenário da invenção de Gutenberg. Esse festival, um jubilaeum typographicum celebrado em Leipzig, coincidiu com a publicação de dois estudos da história da imprensa, um de Mark Boxhorn e o outro de Bernhard von Mallinkrot, ambos enaltecendo a nova invenção. Muitas descrições sub-seqüentes da imprensa adotaram um tom semelhante (1).
Neste artigo, porém, minha abordagem será menos triunfalista. Tradicionalmente a imprensa de tipos móveis é vista como a solução de um problema, como um modo de garantir o suprimento de textos para atender sua crescente demanda no final da Idade Média, uma época em que o número de homens e mulheres alfabetizados estava aumentando. Todavia, essa não é a única perspectiva possível. No que segue - sem intenção alguma de negar o feito de Gutenberg, ou mesmo o dos chineses ou coreanos, que também haviam inventado formas de imprensa - gostaria de examinar algumas das conseqüências imprevistas da invenção, seus efeitos colaterais, os problemas que com ela surgiram.
Parece inevitável que nas atividades humanas todas as soluções de um problema mais cedo ou mais tarde acabem gerando outros problemas. Como sugeriu o geógrafo sueco Torsten Hägerstrand, o processo de inovação sempre tem um aspecto positivo e um aspecto negativo, um "lado destrutivo" e um lado criativo. O lado destrutivo ele denomina "denovação" em oposição à inovação (2). No caso da Revolução Industrial, por exemplo, basta pensar nos operadores de teares manuais que não conseguiam competir com a nova tecnologia, bem como na mão-de-obra infantil nas novas fábricas.
As descrições "triunfalistas" da nova invenção com as quais comecei este artigo foram contrabalançadas desde o início pelo que poderíamos chamar de narrativas "catastrofistas". A imprensa foi descrita pelo humanista francês Guillaume Fichet - que introduziu a máquina impressora em Paris - como o "cavalo de Tróia" (3). Diferentes grupos sociais levantaram diferentes críticas ao novo instrumento. Por exemplo, os copistas os e os "papeleiros" (que vendiam livros manuscritos) e os cantores contadores de histórias profissionais, todos temiam - como acontecera com os operadores de teares manuais na Revolução Industrial - que a imprensa os privaria de seu meio de vida.
Os eclesiásticos, por sua vez, temiam que a imprensa estimulasse leigos comuns a estudar textos religiosos por conta própria em vez de acatar o que lhes dissessem as autoridades (4). Tinham razão. No século XVI, na Itália por exemplo, sapateiros, tintureiros, pedreiros e donas-de-casa, todos reivindicavam o direito de interpretar as escrituras (5). O Índice Católico dos Livros Proibidos, criado depois do Concílio de Trento, foi uma tentativa de lidar com esse problema. Outra possibilidade era, naturalmente, as igrejas adotarem o novo meio na tentativa de usá-lo para seus próprios objetivos. Na Suécia protestante, por exemplo, no século XVII a Igreja organizou uma campanha de alfabetização - talvez a primeira dessa natureza na história moderna - que visava a estimular a leitura da Bíblia (6). Todavia, tal solução por sua vez gerava novos problemas. A publicação, do século XVII em diante, de livros baratos como Fortunatus e Ulspegel mostra que, depois de aprender a ler, as pessoas comuns não se restringiam à leitura da Bíblia, como desejaria o clero.
Explicação:
ESPERO TER AJUDADO!!!