Português, perguntado por VilsomVargas, 8 meses atrás

Quais elementos da narrativa estão presentes no conto ´´Restos do carnaval``? Exemplo ´´enredo, tempo, espaço, personagens, narrador...``

Soluções para a tarefa

Respondido por gabikosera
3

Resposta:

so sei o texto   (#^.^#)

Explicaç

 

               Valendo-se da metáfora criada por Umberto Eco, ler um texto de Clarice Lispector é aventurar-se pelos “bosques da ficção”, percorrendo caminhos, descobrindo as trilhas sugeridas pela autora e - por que não ? - demarcando outras possíveis. Cabe ressaltar ainda que, num bosque, os limites de espaço confundem-se e o tempo pode assumir diferentes dimensões. Da mesma forma, isso ocorre na obra clariceana, cujas histórias apresentam relações de tempo e espaço peculiarmente fascinantes.

O presente estudo, portanto, analisa as construções de tempo e de espaço no conto “Restos do Carnaval”, publicado em Felicidade Clandestina. Como a própria escritora afirma “Não sei separar os fatos de mim, e daí a dificuldade de qualquer precisão, quando penso no passado” [1], tal pesquisa torna-se relevante, no sentido de observar como a autora estabelece relações com o tempo e o espaço, especialmente um tempo passado. Apontar-se-ão ainda aspectos referentes às relações de identidade e alteridade, assim como construções simbólicas relevantes para a leitura do texto. O conto Restos do Carnaval tem um narrador explícito em 1ª pessoa: uma mulher adulta que se recorda de um certo Carnaval de sua infância, explicando ( ou tentando entender ) porque se tornou especial. Desse modo, a narrativa ocorre em 2 tempos distintos: um tempo presente, que corresponde ao da enunciação, em que a narradora adulta se põe a relembrar e escrever sobre aquele Carnaval; e um tempo passado, referente à narradora, então uma menina de oito anos, como personagem da história que decidira relatar. Tal estrutura confere à narrativa um tom autobiográfico, de memórias, introduzindo um locus de tempo do pseudo-autor que, segundo Mendilow (1969), compreende o “ tempo em que o autor presumido escreve, em relação ao tempo em que os eventos registrados são dados como ocorridos”. Há momentos ainda em que o tempo do discurso e o da história não coincidem, indo um mais rápido ou mais lento do que o outro, provocando efeitos bem interessantes, como demonstrou Eco, em seu 3º passeio dos Seis que fez pelos bosques da ficção. Empregam-se também flashbacks e flashforwards, este expressando um tom profético ou uma ansiedade narrativa.

  No conto, o tempo do discurso, da enunciação néespecificadpor datas ou acontecimentos, embora se possa inferir que se trata de um tempo presente em relação ao narrador por conta de suas digressões e suas interferências na narrativa do passado:

“ Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro [...].”

“ [...]No entanto, essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso.” ( grifos meus  )

Já o tempo da história e seu espaço assumem contornos bem definidos ao longo da narrativa. Logo no título e no 1º parágrafo, a narradora informa que se trata do Carnaval, não o mais recente, e sim aqueles de outrora, de sua infância em Recife:“Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas[...]e praças do Recife[...].” Embora pouco participasse da festa, pois“ no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança”, a menina aguardava por ele ansiosamente. Nas suas palavras,“Carnaval era meu, meu”.

Neste ponto, importa registrar ainda que o Carnaval é um evento culturalmente marcado, pleno de significações próprias. Os dias e locais da festa (o tempo e o espaço) assumem valores diversos, simbolicamente estabelecidos, “como se as ruas e praças de Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas”.É uma época de alegria e libertação, em que as ruas, as praças, os salões enchem-se de música, dança e muitas cores. Mas é principalmente o tempo e o espaço em que as pessoas fantasiam-se, usam máscaras, brincando assim de serem outras que não elas mesmas, experimentando serem diferentes.Tais significações também eram sentidas pela menininha-personagem que, além de seu fascínio pelos mascarados

“ [...] porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara.[...]”,

adorava a possibilidade de ter os cabelos enrolados, o rosto pintado, sentindo-se mais bonita, experimentando ser adu  “[...]tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapaa da meninice. ( grifos meus ) ”.

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