Quais críticas nietzsche faz ao sócrates?
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Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar as críticas de Nietzsche a Sócrates através
da contraposição entre a existência trágica e a existência socrática. Pretendo ainda
mostrar que a figura de Sócrates na obra O Nascimento da Tragédia de Nietzsche é
semelhante à imagem de Sócrates na Apologia de Sócrates de Platão.
Em O Nascimento da Tragédia, Nietzsche contrapõe a significação moral da existência,
através do surgimento do homem teórico Sócrates, à justificação da existência enquanto
fenômeno estético, através da tragédia, qualificando, assim, a arte como atividade
metafísica do homem.
Nietzsche se apropria do simbolismo dos deuses helênicos Apolo e Dionísio para expor
sua compreensão da cultura trágica, tal como foi vivenciada pelos gregos no auge de sua
expressão. A tragédia grega é gerada tanto pela duplicidade dos dois impulsos artísticos,
o apolíneo e o dionisíaco, provenientes desses deuses da arte, quanto pela “vontade”
helênica.
No que concerne à “vontade”, essa se apresenta como ato metafísico que, em sua
aptidão ao sofrimento e na transfiguração do mundo artístico, se revê em uma esfera
mais bela e mais gloriosa, a dos deuses Olímpicos. Então, tendo como seu mais sincero
exemplo a sabedoria de Sileno1
, que anuncia a condição humana, os gregos conseguem
encarar o aspecto mais monstruoso de sua existência, com a condição da mediação do
mundo artístico dos deuses, para com a verdadeira tragédia chegarem a seu consolo
metafísico.
Já acerca daqueles dois impulsos artísticos da natureza, enquanto o apolíneo tem como
comparação o sonho e a aparência, pois expressa a necessidade da experiência onírica e
apresenta a imagem divina do princípio de individuação2
, bem como a figuração da
beleza da aparência como precondição para a arte plástica, o dionisíaco se refere à
embriaguez: suprime o subjetivo para, em meio ao auto-esquecimento e ao
encantamento, unificar-se ao Uno-primordial, o que permite a arte não-figurada da
música.
Muito se tem a dizer sobre a relação desses dois impulsos artísticos da tragédia. Ao
caracterizar o encantamento como pressuposto de toda arte dramática e explicar o
verdadeiro papel do coro na tragédia, Nietzsche nos oferece uma explicação dessa
relação. A saber:
Nos termos desse entendimento devemos compreender a tragédia grega como
sendo o coro dionisíaco a descarregar-se sempre de novo em um mundo de
imagens apolíneo. Aquelas partes corais com que a tragédia está entrançada são,
em certa medida, o seio materno de todo assim chamado diálogo, que dizer, do
mundo cênico inteiro, do verdadeiro drama. Esse substrato da tragédia irradia,
em várias descargas consecutivas, a visão do drama, que é no todo uma aparição
de sonho e, nessa medida, uma natureza épica, mas que, de outro lado, como
objetivação de estados dionisíacos, representa não a redenção apolínea na
aparência, porém ao contrário, o quebrantamento do indivíduo e sua unificação
com o Ser primordial. (NIETZSCHE, 1992, p. 60)
Nesse sentido, Nietzsche concebe a tragédia grega tendo como único herói trágico no
fundo de todas as máscaras o deus Dionísio. No entanto, este Dionísio sofredor se dá no
1
Depois de capturado, o rei Midas perguntou para Sileno qual dentre as coisas era melhor e mais
preferível para os homens, para qual o demônio responde: “-Estirpe miserável e efêmera, filhos do acaso
e do tormento! Por que me obrigas a dizer-te o que seria para ti mais salutar não ouvir? O melhor de tudo
é para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser. Depois disso, porém, o melhor para ti
é logo morrer”.(NIETZSCHE, 1992, p. 36)
2
Observação de Schopenhauer sobre o homem colhido no véu de Maia: “Tal como, em meio ao mar
enfurecido que, ilimitado em todos os quadrantes, ergue e afunda vagalhões bramantes, um barqueiro está
sentado em seu bote, confiando na frágil embarcação; da mesma maneira, em meio a um mundo de
tormentos, o homem individual permanece calmamente sentado, apoiado e confiante no princípio de
individuação”.(NIETZSCHE, 1992, p.30)