Sociologia, perguntado por geovanarc17gmailcom, 7 meses atrás

quais as principais linhagens da antropologia?​

Soluções para a tarefa

Respondido por marluciamotacruz
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Resposta:

Há algo curioso na antropologia: ao mesmo tempo em que se vangloria de ter uma das tradições

mais sólidas entre as ciências sociais — na qual se reconhecem cronologicamente os mesmos autores

clássicos quer se esteja no Brasil, nos Estados Unidos, na Índia ou na Inglaterra —, a disciplina abriga

estilos bastante diferenciados, uma vez que fatores como contexto de pesquisa, orientação teórica,

momento sociohistórico e até personalidade do pesquisador e ethos dos pesquisados influenciam o

resultado obtido. Essa característica, se por um lado pode ser apropriada positivamente como um dos

aspectos mais ricos e complexos da disciplina, por outro oferece o perigo de, não respeitado o

equilíbrio sutil entre teoria e pesquisa, resvalar para uma situação na qual existam tantas antropologias

quanto antropólogos.

Aqui talvez esteja a fonte da situação problemática que a antropologia potencialmente oferece às

demais ciências sociais no Brasil. Esta situação tem sido especial objeto de reflexão do cientista

político Fábio Wanderley Reis, que apontou, em 1988, uma certa inspiração `antropológica' nos

trabalhos pouco sofisticados das ciências sociais brasileiras na atualidade. Privilegiando o `popular' e o

`cotidiano' tal como estes se apresentam à observação desarmada e acrítica do participante, o leitor

teria, segundo Fábio Wanderley Reis, de suportar `longos depoimentos em estado bruto de mulheres

da periferia urbana', uma descrição que serve como metáfora para muitos dos problemas que ocorrem

também dentro da disciplina. Mais recentemente, o mesmo autor denunciou um certo

`conjunturalismo' e um `historicismo' como responsáveis pela ausência de uma maior e desejável

sofisticação teórico-metodológica, resultando em um estado de indigência analítica que teria se

alastrado nas ciências sociais no Brasil.

As preocupações de Fábio Wanderley Reis são sérias e pertinentes e, para o antropólogo,

preocupantes. À medida que, nos últimos tempos, têm crescido o prestígio e/ou visibilidade da

antropologia no âmbito das ciências sociais no Brasil — prestígio e/ou visibilidade que ela estava longe

de ter há 20 anos atrás — estabeleceu-se, no contexto da Associação Nacional de Pós-Graduação em

Ciências Sociais (Anpocs), uma visão de que, enquanto a sociologia e a ciência política se sentem em

crise, tudo vai bem com a antropologia e com os antropólogos — o ensino é adequado; os alunos são

bem formados teoricamente; a pesquisa de campo continua sendo uma característica da disciplina;

cursos de pós-graduação aprimoram a formação, unindo pesquisa e ensino; em suma, a disciplina

avança.1

Parece, então, que tanto os perigos da vulgarização quanto o otimismo dos antropólogos precisam

ser explicados, e a minha tentativa será dar uma resposta conjunta para os dois problemas,

privilegiando mais questões de fundo que estratégias. Antecipo, contudo, que ao contrastar as

disciplinas estarei conscientemente exagerando algumas diferenças por uma questão de ênfase, não

sem esquecer que a antropologia se concebe como um desdobramento da sociologia européia do

século XIX e que, no Brasil, as ciências sociais foram institucionalizadas nos anos 30 sob o manto da

filosofia, que abrigava na época os estudos hoje diferenciados como sociologia, antropologia e ciência

política.

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