Quais as mudanças que ocorreram após a revolução industrial no modo com que as pessoas utilizam o tempo? Essas mudanças nos afetam de algum jeito?
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Entre os tópicos mais utilizados na Filosofia da História, na historiografia e às vezes na literatura está o da "aceleração da História", por um lado, e a popularização de um conceito, "tempo livre", até à altura apenas reservado às classes dirigentes da aristocracia.
Para falar sobre o Tempo após o século XVIII há que ter em conta estes fatores e, aliás, a ideia de que (quanto menos até à regressão dos direitos laborais desta fase do capitalismo) nas sociedades contemporâneas existe um tempo associado a cada revolução industrial: há um tempo "do trem" e "do telégrafo" na mesma medida em que hoje se tem a percepção de um tempo quase simultâneo e também a sensação paradoxal de que quando mais rápido viaja a informação (e as pessoas, mercê aos meios de transporte rápidos e acessíveis), mais aumentam a ansiedade e o stress relacionados com a falta de tempo.
Quando a classe operária, com esforços épicos, foi conseguindo melhoras (como o direito ao descanso sem deixar de perceber o soldo) isso significou dispor de mais tempo; assim é lícito estabelecer uma relação geográfica, social e de classe na distribuição da quantidade de tempo. Nas sociedades rurais, em troca, manteve-se geralmente (e ainda) um ritmo distinto que tem a ver com a mecanização seródia e a auto-gestão dos labores agrícolas, pelo menos mentres permaneceram nas mãos dos pequenos proprietários.
Haveria, pois, uma "pirámide do Tempo" que registaria no seu clímax maior proximidade ao tempo atual, moradia urbana e labores vinculados a esta, que exigem rapidez nos deslocamentos e na comunicação. Na parte baixa dessa pirámide estariam as pessoas distanciadas das grandes urbes e da última revolução industrial (tecnológica).
Para todas elas, porém, a aceleração da História funcionaria como valor não subjectivo: as próprias mudanças na tecnologia de facto sim aceleram processos que ontem duravam muito mais tempo ou se consideravam à margem dele. Eis o que estudosos contemporâneos denominam "Antropoceno", um periodo terrestre que, em contraste com as longuíssimas Idades prévias (Holoceno, Pleistoceno, etc.), produz mais mudanças e em muito menos tempo que em periodo nenhum desde a estabilização das condições da biosfera. Vemos a velocidade de vertigem como muda o clima, como se altera a superfície terrestre (o regime dos gelos e das águas, a desertificação), como a velocidade mesma da vida do Ser Humano provoca um "stress biológico" ao planeta cujas consequências resultam fáceis de comprovar simplesmente mediante a comparação de fotografias aéreas.
Se no passado questões como a permanência da Terra (da biosfera, na realidade) e das espécies (também a nossa) eram tidas como circunstâncias à margem do decorrer histórico, agora olhamos em tempo real a sua incorporação ao pathos geral de aumento da velocidade. Difícil que a intimidade humana permaneça no mesmo estado no que se achava, por exemplo, na Idade Média, quando os ritmos eram agrários, sujeitos às estações, e muitas pessoas, com relativa independência da sua condição social, incluíam atividades que hoje não duvidariamos em qualificar de contemplativas.
A chamada "sociedade do espetáculo" ou "sociedade do lazer", porém, formula de novo o paradoxo: quando tens tempo livre, não deves esbanjá-lo! A urgência coletiva ordena empregar muito bem os periodos nos que as pessoas podem planificar atividades não laborais, o que exige mover-se com rapidez e seleccionar com inteligência e sentido da economia essas horas; isto é, a mesma ideia de tempo livre vive-se duma maneira bem diferente e provoca fenómenos como a massificação (dos espetáculos, do turismo), a homogeização das experiências culturais associadas ao lazer e, mais uma vez, a sensação de que o Tempo "não é suficiente". Precisariamos muitas vidas para ver os filmes dos que gostamos, a literatura que nos apaixona, os desportos que nos injetam adrenalina.
Provavelmente as artes contemporênas sejam a melhor receita para apreciar como mudou a consideração do Tempo na idade contemporânea. Os ritmos frenéticos da música de consumo (mas também do jazz, e das artes plásticas, e já nem digamos do cinema) semelham dizer-nos, duma maneira insistente e profunda, que apesar de que segundo a velha filosofia nada muda no fundo do Ser humano, o certo é que ainda não temos dados para saber como é que estão a atingir todas estas novidades à cultura do Homo Sapiens e, provavelmente, à sua própria estrutura biológica.
Para falar sobre o Tempo após o século XVIII há que ter em conta estes fatores e, aliás, a ideia de que (quanto menos até à regressão dos direitos laborais desta fase do capitalismo) nas sociedades contemporâneas existe um tempo associado a cada revolução industrial: há um tempo "do trem" e "do telégrafo" na mesma medida em que hoje se tem a percepção de um tempo quase simultâneo e também a sensação paradoxal de que quando mais rápido viaja a informação (e as pessoas, mercê aos meios de transporte rápidos e acessíveis), mais aumentam a ansiedade e o stress relacionados com a falta de tempo.
Quando a classe operária, com esforços épicos, foi conseguindo melhoras (como o direito ao descanso sem deixar de perceber o soldo) isso significou dispor de mais tempo; assim é lícito estabelecer uma relação geográfica, social e de classe na distribuição da quantidade de tempo. Nas sociedades rurais, em troca, manteve-se geralmente (e ainda) um ritmo distinto que tem a ver com a mecanização seródia e a auto-gestão dos labores agrícolas, pelo menos mentres permaneceram nas mãos dos pequenos proprietários.
Haveria, pois, uma "pirámide do Tempo" que registaria no seu clímax maior proximidade ao tempo atual, moradia urbana e labores vinculados a esta, que exigem rapidez nos deslocamentos e na comunicação. Na parte baixa dessa pirámide estariam as pessoas distanciadas das grandes urbes e da última revolução industrial (tecnológica).
Para todas elas, porém, a aceleração da História funcionaria como valor não subjectivo: as próprias mudanças na tecnologia de facto sim aceleram processos que ontem duravam muito mais tempo ou se consideravam à margem dele. Eis o que estudosos contemporâneos denominam "Antropoceno", um periodo terrestre que, em contraste com as longuíssimas Idades prévias (Holoceno, Pleistoceno, etc.), produz mais mudanças e em muito menos tempo que em periodo nenhum desde a estabilização das condições da biosfera. Vemos a velocidade de vertigem como muda o clima, como se altera a superfície terrestre (o regime dos gelos e das águas, a desertificação), como a velocidade mesma da vida do Ser Humano provoca um "stress biológico" ao planeta cujas consequências resultam fáceis de comprovar simplesmente mediante a comparação de fotografias aéreas.
Se no passado questões como a permanência da Terra (da biosfera, na realidade) e das espécies (também a nossa) eram tidas como circunstâncias à margem do decorrer histórico, agora olhamos em tempo real a sua incorporação ao pathos geral de aumento da velocidade. Difícil que a intimidade humana permaneça no mesmo estado no que se achava, por exemplo, na Idade Média, quando os ritmos eram agrários, sujeitos às estações, e muitas pessoas, com relativa independência da sua condição social, incluíam atividades que hoje não duvidariamos em qualificar de contemplativas.
A chamada "sociedade do espetáculo" ou "sociedade do lazer", porém, formula de novo o paradoxo: quando tens tempo livre, não deves esbanjá-lo! A urgência coletiva ordena empregar muito bem os periodos nos que as pessoas podem planificar atividades não laborais, o que exige mover-se com rapidez e seleccionar com inteligência e sentido da economia essas horas; isto é, a mesma ideia de tempo livre vive-se duma maneira bem diferente e provoca fenómenos como a massificação (dos espetáculos, do turismo), a homogeização das experiências culturais associadas ao lazer e, mais uma vez, a sensação de que o Tempo "não é suficiente". Precisariamos muitas vidas para ver os filmes dos que gostamos, a literatura que nos apaixona, os desportos que nos injetam adrenalina.
Provavelmente as artes contemporênas sejam a melhor receita para apreciar como mudou a consideração do Tempo na idade contemporânea. Os ritmos frenéticos da música de consumo (mas também do jazz, e das artes plásticas, e já nem digamos do cinema) semelham dizer-nos, duma maneira insistente e profunda, que apesar de que segundo a velha filosofia nada muda no fundo do Ser humano, o certo é que ainda não temos dados para saber como é que estão a atingir todas estas novidades à cultura do Homo Sapiens e, provavelmente, à sua própria estrutura biológica.
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