Quais as duas politicas coloniais aplicadas no continente africano.
Soluções para a tarefa
Resposta:RESUMOS
PORTUGUÊSENGLISH
O colonialismo foi mais do que um sistema de exploração econômica e dominação política, e pode mesmo ser entendido como um modo de percepção do mundo. Produziu formas de enquadramento da vida social e criou relações fundadas em forças hegemônicas — sempre em tensão construtiva com imagens contra-hegemônicas. Este artigo discute as categorias geradas pelo colonialismo. Oferece, igualmente, uma introdução aos trabalhos reunidos neste dossiê, cujo enfoque recai sobre as experiências coloniais em África. Este conjunto de reflexões visa à análise dos mapas mentais elaborados no intuito de orientar a navegação na paisagem colonial africana. Busca ainda fornecer subsídios para uma reflexão sobre o que restou desse modo de enquadrar o mundo depois das descolonizações.
Topo da página
ENTRADAS NO ÍNDICE
Keywords: colonialism, postcolonial, Africa, classificatory systems, hegemony
Palavras chaves: colonialismo, pós-colonial, África, sistemas classificatórios, hegemonia
Topo da página
MAPA
Classificação e poder nas experiências coloniais
(Des)continuidades no mundo pós-colonial
Pluralidade temática
O dossiê em suas partes
Topo da página
NOTAS DA REDACÇÃO
Recebido em 27/09/2015. Aceito em 20/11/2015.
TEXTO INTEGRAL
PDF 215kAssinalar este documento
1O colonialismo foi mais do que um sistema de exploração econômica e de dominação política, podendo mesmo ser entendido como um modo de percepção do mundo e de enquadramento da vida social. Este número especial do Anuário Antropológico discute as categorias geradas pelo colonialismo. Reunindo pesquisas cujo enfoque recai sobre as experiências coloniais em África, as contribuições agregadas neste volume analisam os mapas mentais elaborados por uma variedade de sujeitos no intuito de orientar a navegação na paisagem colonial africana. Igualmente, fornecem subsídios para uma reflexão crítica sobre o que restou desse modo de enquadrar o mundo depois das descolonizações.
2Os estudos históricos sobre a presença europeia em África, bem como os eventos contemporâneos que recorrentemente descortinam aos olhos do mundo as feridas abertas deixadas naquele continente pelos projetos imperialistas, não permitem minimizar a violência explícita das ações de subjugação política e de extração de recursos que acompanharam o colonialismo. O que os estudos coloniais e pós-coloniais têm demonstrado, porém, sobretudo aqueles realizados a partir da década de 1990, é que tais dimensões dos projetos imperialistas devem ser vislumbradas através de uma nova lente (ver, especialmente, Comaroff & Comaroff, 1991, 1997; Cooper & Stoler, 1997a). Num sentido mais amplo, o colonialismo passa a ser entendido como um evento que alcançou os domínios mais insólitos das práticas cotidianas, os mais recônditos cantos da vida social. Como produto de um complexo encontro que alterou a tudo e a todos (Comaroff & Comaroff, 1997), trata-se de “um processo histórico totalizante, instituidor de uma hegemonia orientadora da percepção e da experiência social” (Trajano Filho, 2004:23).
3Em outras palavras, o esforço conjunto da historiografia e da antropologia realizado nas últimas décadas tem levado a um exame do colonialismo como um processo que atuou, “simultaneamente, igualmente e inseparavelmente”, na economia política e na cultura (Comaroff & Comaroff, 1997:19). Economia política e cultura são, portanto, aspectos de uma mesma realidade. O colonialismo está relacionado ao evento histórico do capitalismo industrial e aosimperativos materiais da modernidade, ao mesmo tempo que atravessa o campo das representações, dos discursos e dos valores. Como tal, foi experienciado, pela pluralidade de sujeitos envolvidos, na totalidade da vida social e na própria definição dos termos em que essa realidade se apresentava à experiência, classificando-a e hierarquizando-a.
Classificação e poder nas experiências coloniais
Nothing should be named lest by so doing we change it.
Virginia Woolf
4A construção de sistemas classificatórios não é uma preocupação nova na antropologia, ocupando o coração da disciplina desde seus primórdios. Em 1903, na obra De quelques formes primitives de classification: contribution à l’ étude des représentations collectives, Durkheim e Mauss já indicavam a importância da função classificatória na vida social. Seja no totemismo australiano, seja nas taxonomias de cunho científico — exemplos paradigmáticos do primitivo e do moderno, no pensamento dos autores —, encontramos sempre um esforço de construção de “sistemas de noções hierarquizadas”, nos quais as coisas encontram-se dispostas em grupos que mantêm relações definidas uns com os outros, formando um todo no seu conjunto (Durkheim & Mauss, 1981:197). Estamos diante da universalidade dos “hábitos mentais em virtude dos quais concebemos os seres e os fatos sob a forma de grupos coordenados e subordinados uns aos outros” (Durkheim & Mauss, 1981:203).