Quais as diferenças entre personagem plana e uma personagem classificada como esférica?
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Uma forma de classificação das personagens literárias diz respeito à caracterização, podem ser, então, personagens planas ou esféricas (redondas). As planas são caracterizadas com um número limitado de atributos, sendo normalmente fáceis de identificar pelo leitor. As personagens planas podem ser: tipos ou caricaturas.
O tipo é uma personagem construída com caracteres típicos, imutáveis, tanto morais, sociais, econômicos. Nessa categoria tem-se: o capitalista, o jornalista, o fanfarrão, o chato, a dona de casa, a professora, a avarenta etc. São personagens “genéricos” facilmente reconhecíveis; de uma certa forma, segundo Reis e Lopes (1990:392) “o tipo pode considerar-se uma personagem pré-construída e previsível que pode desempenhar também uma função como a do figurante, pois a sua participação na ação é pequena.
A caricatura é uma personagem “reconhecida por características fixas e ridículas”. Tem um forte traço cômico.
As personagens esféricas são construídas com mais complexidade, com mais atributos em sua personalidade, têm, geralmente, características físicas (corpo, voz, gestos, roupas) psicológicas (personalidade e estados de espírito), sociais (classe social, profissão, atividades sociais), ideológicas (modo de pensar, filosofia de vida, opções políticas, religião), morais (boa ou má, honesta ou desonesta, moral ou imoral, dependendo do ponto de vista pelo qual a personagem é julgada, pelo narrador ou pelo próprio leitor).
Por isso, normalmente a personagem esférica é surpreendente, suas características não são dadas todas de uma só vez, são aos poucos, o leitor deve juntar o que as outras personagens, também, revelam sobre este ser complexo. Ótimo exemplo de personagem esférica é Capitu, de Dom Casmurro (1992:55), romance de Machado de Assis. no trecho a seguir Capitu é observada pelo narrador, Bentinho, que é seu marido, é possível notar a subjetividade de Bentinho quando ele tenta definir os olhos de Capitu.
Ao trecho:
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.
A caracterização da personagem é construída pela visão que as outras personagens e o narrador têm dela. O discurso narrativo expresso nas palavras de referência à personagem atribuem-lhe uma série de predicados, conforme esta personagem fala e pensa; conforme o que as outras personagens e o narrador dizem dela; e também conforme o que ela faz no decorrer da história. A predicação direta é quando a informação sobre a personagem vem através do narrador, de outra personagem ou pela sua própria voz. Neste caso, as informações são diretas, não é necessário que o leitor trabalhe com a dedução. Na predicação indireta, ao contrário, é necessário que se interprete, pois é a partir da ação, das falas e dos pensamentos da personagem que o leitor vai concluir como ela está sendo caracterizada.O ponto de vista subjetivo de Bentinho e sua relação amorosa mal-resolvida com Capitu fazem com que seja impossível fazer uma predicação direta a respeito dos olhos dela etc. A imagem dos olhos de ressaca é paradoxal, torna ainda mais complexa a personagem Capitu. No trecho acima, a predicação é , pois, indireta, implícita, marcada pela subjetividade do narrador, embora passados tantos anos ainda não conseguira uma definição simples e direta para aquela misteriosa mulher.
Na criação de personagens fictícios existe uma definição que diferencia os tipos de personagem de acordo com seu desenvolvimento no desenrolar do enredo.
Os personagens planos são aqueles que seguem uma linha de comportamento previsível, com características marcadas, que não se alteram diante dos acontecimentos. São facilmente identificados.
Já os personagens esféricos são aqueles que oscilam durante o desenrolar da história. São modernos e surpreendentes com características que fogem do tradicional, que se opõem a linha comportamental do seu personagem.
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