Quais as diferenças e semelhanças entre os poemas "Navio Negreiro" e "Vozes d'África"
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Resposta:
O Navio Negreiro e Vozes d’África são duas das principais realizações do poeta baiano Castro Alves (1847-1871). São publicadas no livro póstumo Os Escravos (1883), organizado pelo próprio autor com base na poesia abolicionista, porém, preterido pela edição de Espumas Flutuantes (1870). Ambas têm, nas palavras de Alberto da Costa e Silva (1931), “recitação quase obrigatória nas reuniões e comícios abolicionistas e nos serões nas casas dos simpatizantes”[1]. Compõem as mais importantes peças de poesia pública e declamatória no Brasil, gênero cultivado pelo autor.
Escritas em São Paulo (capital da então província em que o trabalho dos negros se faz necessário), em 1868, complementam-se no tratamento do tema da escravidão. Na época, o jovem autor completa os estudos na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Celebrado por José de Alencar (1829-1877) e Machado de Assis (1839-1908), é tido como principal expoente da poesia brasileira de sua geração.
O Navio Negreiro é um poema composto de seis partes de organização estrófica variada – quadras em decassílabos, décimas em redondilhas, estrofes de seis versos em decassílabos e hexassílabos, mais uma vez décimas em redondilha e estâncias em oitava rima. Tudo começa nos ares: tomando de empréstimo a perspectiva do albatroz. Avista-se o navio em alto-mar, admira-se o encontro entre a água e o firmamento e vê-se um marinheiro. A ave aproxima-se do navio e percebe-o empregado no tráfico de escravos, consumidos pela fome, violência e loucura. Segue-se a digressão em redondilhas, em que o poeta opõe existência feliz e livre dos prisioneiros, com a situação abjeta do navio e pede o fim de tamanho horror. Segue-se a denúncia de “[...] um povo que a bandeira empresta / P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...” e a invocação dos heróis do descobrimento do continente (Colombo) e da independência brasileira (Andrada) para que se acabe com tal infâmia.
Ao lado de O Navio Negreiro, Vozes d’África concede a palavra ao próprio continente. Segundo Costa e Silva: “como se fosse a outra aba do retábulo”[2]. Em sextinas e linguagem carregada de referências bíblicas, reporta-se a um Deus que, em 2 mil anos, jamais atendeu às súplicas do continente africano, estigmatizado pelos demais. A África arde em desertos sob o peso da maldição de Cam, que nem mesmo Cristo é capaz de apagar. Estrofe a estrofe, a alegoria caminha “amortalhada”, a lamentar a vingança dos céus e a errar pelos areais na forma do povo escravizado na América. Lá, “o condor” da liberdade transforma-se “em abutre” que se alimenta da exploração do trabalho escravo.
Num e noutro poema estão patentes as qualidades do versificador habilidoso e do poeta público, atento à lírica nacional de Gonçalves Dias (1823-1864) e Álvares de Azevedo (1831-1852). “Há inicialmente em Castro Alves”, aponta Antonio Candido (1918), “o sentimento da história como fluxo e do indivíduo como parcela deste fluxo”[3]. Disso decorre, prossegue o crítico, “um compromisso com a eloquência: a poesia, como força histórica, se aproxima automaticamente do discurso, incorporando a ênfase oratória à sua magia”[4]. Em O Navio