Provão Letras 2002, questão 22]
No texto abaixo, Antonio Candido analisa um trecho narrativo de Carlos Drummond de Andrade.
[...] Seja um trecho no começo do conto "Beira-rio" [de Carlos Drummond de Andrade]:
Sete da manhã e o trabalho principiando no campo. O apontador chegava ainda com escuro, porque não conseguia dormir na casinha de pau a pique onde ele, mulher e filhos viviam como que em depósito, à espera de vaga na vila proletária. Os mosquitos resistiam a tudo, e o fio de som que emitiam no voo lento, indo e vindo, tecia sobre a cama uma espécie de cortinado. A mão, levantando-se, dilacerava a trama, que contudo logo se recompunha, e tão constante no seu dom de irritar que, se por acaso cessasse um momento, o silêncio feria por sua vez, de inesperado. Então, o apontador ia acordar o balseiro, e os dois, cortando o rio, presenciavam calados o nascimento do sol, que do campo em ruínas, na outra margem, ia tirando pouco a pouco uma usina em construção.
O que logo sobressai é a poderosa metáfora da teia, baseada num "equívoco", como diziam os antigos: o fio de som gera a ideia de tecido formado por ele, como se um sentido próprio se materializasse a partir do sentido figurado. Em torno da metáfora gira o trecho e ela lhe confere um toque de linguagem poética, situando-o para o lado da poesia. No entanto, é igualmente forte o elemento de referência ao real, que funciona como nível informativo ao modo de uma notícia: o empregado, que vive miseravelmente numa casa de pau a pique, atravessa o rio de balsa e vai para a construção da usina, onde é apontador – e aqui estamos perto dessas crônicas que fixam o quotidiano. Mas o trecho não é poema nem crônica, embora possa ser visto como oscilando entre ambos: é ficção, que talvez seja tão boa devido à presença de elementos ricos em poesia e singela realidade.
Antonio Candido
Segundo se depreende das palavras do crítico, a "singela realidade" se mostra ao leitor mediante
Escolha uma:
a. o retrato do cotidiano, na linguagem despretensiosa do homem do campo.
b.
a poesia e suas imagens, que transpõem com mais fidelidade aspectos do real.
c.
a dissolução da cena cotidiana por uma sequência de metáforas.
d.
a presença do cotidiano, manifesto nos traços de crônica reconhecíveis no conto.
e.
o poder que tem a ficção de retratar a vida no seu aspecto mais superficial.
Soluções para a tarefa
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14
Resposta:
a presença do cotidiano, manifesto nos traços de crônica reconhecíveis no conto.
#Acabei de responder no meu ava :)
muriloasantos84:
certinho, valeu
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4
Resposta:
resposta correta letra d
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