Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
BANDEIRA, Manuel. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 81.
Glossário
Luzes de Bengala: fogos de artifício, que incluem chuva de ouro, estrelas, fósforos e bastões de cor.
O poema possui duas partes, separadas por um asterisco (*). A expressão “dormindo profundamente” é utilizada:
A) em sentido metafórico nas duas partes.
B) em sentido metafórico na primeira parte e em sentido literal na segunda.
C) em sentido literal nas duas partes.
D) em sentido literal na primeira parte e em sentido metafórico na segunda.
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Resposta:
é a D
Explicação:
Porque no primeiro realmente eles iriam dormir, era meia noite.
mas já na segunda parte é no sentido de morte.
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