preciso de uma cronica narrativa
Soluções para a tarefa
Paralisia do Sono
Barbara saltitava entre cervos pelos mais verdejantes campos que seus olhos já foram capazes de testemunhar. O sol lhe sorria pétalas, o vento lhe entregava bússolas, e as vozes lhe entoavam cálidas. Houve risos ao redor. Houve sons em ré maior.
Na verdade, tinha medo de cervos. Mas o ambiente lhe concedia segurança. E não apenas isso. No instante seguinte, sentiu o toque leve e apaixonado. Os dedos dele em sua mão. Virou-se e contemplou olhos radiantes do homem que amava. Sua presença pulsava segurança. Nada, em lugar algum, poderia ameaçá-la. Ele prometeu-lhe amor e, quando fosse pouco, lhe daria o mundo, estrelas e chocolates.
Ela sorriu-lhe beijos e contemplou derredor… derredor… derredor…
Um eco.
Um grito.
O verde tornou-se cinza.
O sol tornou-se trevas.
Cervos eram móveis desarranjados. As bússolas, roupas sujas e garrafas vazias.
Barbara jazia em sua cama fria. Repentinamente retirada do seu sono mais profundo.
Acordada, mas ainda dormindo.
Atonia.
Paralisia corporal.
Consciente, mas o corpo em estado de sono. Paralisia do sono.
Tentou se mexer. Quase nada. Além dos olhos, só conseguia mexer os pés. Tentou acordar a si mesma movimentando os pés desesperadamente. Tentou, buscou, se esforçou. Mas, a densa nuvem do seu quarto alcoólico a retinha ali.
Melhor gritar, pensou. Seu grito a traria de volta à realidade.
Mas, o eco grito sufocou-se no silêncio latente das quatro paredes de sua garganta. Elos perdidos, nexo desconexo, palavras resistidas e mantidas em suas cordas vocais.
Melhor manter a calma, pensou. Inspire. Expire. Muito bem. Tinha total controle da respiração, o que verdadeiramente importava. Seus olhos semicerrados percorreram o ambiente inóspito. Restos de cigarro, um copo de vodka, uma fotografia amarga. O sol tímido jazia em um pequeno filete após entrar sem ser convidado pelas cortinas espessas e cerradas.
Sim, era seu quarto, sua pequena cova. Seu lugar de segurança.
Foi então que o desesperou tomou-a por completo. Alucinações hipnagógicas. Do nada, seu quarto foi tomado por alienígenas. Eles vieram em sua direção, rachando o piso com seus passos pesados. Salivavam substância leitosa de algum planeta distante. Preparavam instrumentos cirúrgicos, enquanto olhos de curiosidade sádica examinavam o corpo de Barbara.
Um deles veio em sua direção. Lâmina faminta e mórbida em mãos. Sentou-se sobre suas pernas, deitou-se sobre seu corpo, e baforou-lhe fumaça extraterrestre em sua nuca.
Barbara pediu para morrer. Preferia isso a ser abduzida, ou aberta por um instrumento cirúrgico alienígena.
Em um último movimento desespero cético, tentou virar seu corpo para derrubar o ser invasor. E conseguiu!
Foi então que abriu os olhos totalmente. Seu sangue solidificado voltando a correr.
Ergueu o corpo suado, e olhou ao redor. Não havia figuras terrestres, muito menos, alienígenas. Estava como sempre esteve. Em seu apartamento, sob sete palmos de solidão.
Após alguns segundos, pensou em dormir novamente. Narcolepsia. Mas estava apavorada em reviver a terrível experiência.
Afinal, tinha pavor de cervos.
Resposta: Antes da tarde, tinha a manhã. Acordar cedo, apesar de domingo. Obrigação de ir à missa. O tédio certeiro na fala sincopada e sem sentido do padre. Contar os nichos dos santos, os quadrados do teto. Reparar nas carolas, no som desafinado do canto da “missa dos jovens”.
Contar os minutos para aquilo acabar. “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe!”. Finalmente chegar em casa e encontrar o banquete de domingo: vários tipos de massas e molhos, salada, carne, legumes, sobremesa. Tudo feito em casa, tudo delícias, saboreadas ao som inequívoco, irritante, de Silvio Santos.
Ele e seu baú. Ele e suas piadas sem graça. Ele e sua risada que me enchia de tédio e agonia.
A TV ficava na sala. Meu avô decidia o que a família ia assistir. E eu era obrigada a engolir aquelas doses cavalares de melancolia.