Português, perguntado por karolinakta1, 1 ano atrás

Preciso de ajuda urgente com esse exercício.


Amai o próximo, etc…

Atendo o telefone na minha casa. “Victor

está?” diz a voz do outro lado sem sequer um alô, um

por favor, nada. Eu, amável, informo que Victor não

está nem pode estar porque não mora aqui. O outro

bate o telefone na minha cara. Dois minutos, e o

telefone toca novamente. “Quero falar com Victor”

vem a mesma voz. “O senhor é muito mal-educado”,

ataco logo para não lhe dar tempo de desligar.

“Acabou de ligar, nem me agradeceu, nem me pediu

desculpas, e bateu com o telefone. Como já lhe disse,

Victor não mora aqui.” A voz se faz mais mansa, “A

senhora desculpe. Muito obrigado.” E desliga.

Exulto. Ponto a favor da educação. Pois, se

com medo de infringir-lhe as regras, sempre me

abstenho de reprimendas desse tipo, é justamente

para mantê-las vivas – as regras, não as reprimendas

– que convém fazê-las.

Digo obrigada à caixa do supermercado, que

não me responde. Peço por favor ao funcionário do

guichê que nem levanta os olhos para a minha

pessoa. Dou bom-dia ao sujeito do açougue que

parece não entender de que dia ou de que qualidade

estou falando. Sou uma otária? Não, sou uma

resistente.

Minha amiga Claudine de Castro, socialite das

mais elegantes, publicou um livro de etiqueta. Uma

graça o livro, bem-humorado, prático. Fui ao

lançamento. Todos ali éramos veteranos praticantes

daquilo que se chamava “boas-maneiras”. Um bando

de micos-leões-dourados, pensei. Ameaçados de

extinção. Uma amiga comum comentou que daria o

livro ao sobrinho, ela não precisava. “Os jovens”

acrescentou, “andam muito mal-educados”.

Os jovens? Não era jovem o senhor bem

vestidérrimo que quase me segurou no meio da rua,

interrompendo minha marcha célere, para pedir

orientação a respeito de um endereço. Orientação

fornecida, o cavalheiro, que certamente não fazia jus

à definição, partiu sem dizer água vai. E fiquei eu, no

resto da manhã, irritada pela brutalidade.

No Japão, a primeira expressão que me

ensinaram quando cheguei foi . Equivale

ao nosso por favor. Para ajudar-me a gravar essa

chave fundamental em qualquer situação, sugeriram

que lembrasse da nossa tão frequente corrupção e

dissesse em português: sumiu mais cem. Cravou-se,

indelével, na minha memória. E dela lancei mão

infinitas vezes, com aquela segurança com que se

saca um ás da manga. Nunca conheci povo tão

bem-educado. Todos te atendem sorridentes. Todos

te ajudam. Ninguém te esbarra. Ninguém te esbarra

mesmo em meio à multidão. E multidão é coisa

frequente no Japão. Sem grandes antropologismos,

podemos deduzir que a viver tantos em país tão pequeno ou se entredevoravam ou se educavam.

Preferiram educar-se.

Entre nós, os livros de etiqueta como o de

Claudine vendem feito pão. Ânsia de educar-se para

sobreviver? Não, necessidade de aprender as regras

para ascender. Os recém-chegados às mesas de

muitos talheres – e há sempre levas novas que

chegam e mesas novas são postas – querem saber

que garfo pegar. Pena que o garfo certo não seja

fundamental, ou sequer importante, para a boa

educação. Boa educação sendo, por exemplo,

aquela que as pessoas da roça, de tão poucos

talheres e tão pouca comida no prato, praticam com

d o ç u r a e n a t u r a l i d a d e . C u m p r i m e n t a r o

desconhecido com quem se cruza na trilha, coar café

ou oferecer água ao visitante que chega. Dar

atenção.

Dar atenção é a essência da boa educação.

Só isso. Em vez do humilde “por favor”, deveríamos

dizer: peço a sua atenção. Pois não é favor algum

atender o semelhante que precisa de nós. E nenhum

contato pode ser gentil sem atenção. No entanto, em

todas as línguas, quando se quer ser educado é por

favor que se pede, ou desculpas, pois está

estabelecido que necessitar do outro, tirar o outro do

seu rumo por instantes é algo quase incoveniente,

pelo qual devemos nos penitenciar. Convenhamos,

há um erro de base. Ou, se quisermos ir um pouco

mais além no sentido desses mínimos encontros, há

uma lamentável regra de desamor. (Marina Colassanti)


1. Observe os tempos verbais empregados na crônica lida. Note que, com base neles, é possível dividir a crônica em três partes: a primeira, do 1º ao 3º parágrafo; a segunda, do 4º ao 6º parágrafo; a terceira, do 7º ao 8º parágrafo.
a. O que justifica o emprego no presente nos verbos da primeira e da terceira partes do texto?
b. O que justifica o emprego do pretérito perfeito e do pretérito imperfeito na segunda parte?
c. Conclua: Existe uma regra para o emprego de tempos verbais nas crônicas?
2. A crônica geralmente apresenta uma linguagem de acordo com a norma-padrão, mas com variações e graus de formalidade que dependem do perfil do cronista ou do jornal ou revista em que é publicada.
a. Como se caracteriza a linguagem da crônica lida?
b. Leia os parágrafos iniciais de uma crônica de Fabricio Corsaletti e identifique o tipo de linguagem empregada pelo cronista. Justifique sua resposta com palavras ou trechos do texto.

Soluções para a tarefa

Respondido por irmasjubi
240

A)as ações estão acontecendo naquele momento(presente) já o imperfeito uma ação que foi interrompida

B) o pretérito perfeito foi usado para indicar uma ação que se foi feita e acabada, já o preterito imperfeito foi algo inacaba.do

C) sim .

2:    A)informal

B)sua é linguagem é formal.[...]"ei-la, minha pepita chama-se"rocambole de churros", e tenho que admitir que é um nome um pouco confuso"[...]

Respondido por benvindomiguel45
1

Resposta: 11. A crônica geralmente apresenta uma linguagem de acordo com a norma-padrão, mas com variações e graus de formalidade que dependem do perfil do cronista ou do jornal ou revista em que é publicada.

a. Como se caracteriza a linguagem da crônica lida?

Resposta: A linguagem está de acordo com a norma-padrão e apresenta certa formalidade, com palavras e construções cultas e pouco comuns em textos jornalísticos, como célere, indelével, infringir-lhe as regras e convém fazê-las.

b. Leia os parágrafos iniciais de uma crônica de Fabricio Corsaletti e identifique o tipo de linguagem empregada pelo cronista. Justifique sua resposta com palavras ou trechos do texto.

Resposta: É uma linguagem informal, conforme indica o uso de pra, pro, boteco e de um vocabulário comum, próximo do utilizado na linguagem oral cotidiana.

Espero ter ajudado. Bons estudos!

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