Pq se chamava Lajes e pq eles trocaram para Lages
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Sim, está errado escrever o nome da cidade catarinense com “j”: o nome oficial do município em Santa Catarina é mesmo Lages, com g (como mostra a própria página da Prefeitura de Lages). Mas, se você pegar o seu dicionário Aurélio, Houaiss ou Michaelis, lá encontrará: lajiano: relativo a Lajes (SC) ou o que é seu natural ou habitante.
Isso quer dizer, então, que os três principais dicionários brasileiros estão errados? Infelizmente, sim. E, infelizmente, há vários outros casos do mesmo tipo de erro nos três dicionários – e todos com a mesma origem.
O gentílico lajiano e a grafia Lajes remetem a meados do século passado, quando a ortografia brasileira era regida pelo Formulário Ortográfico de 1943 – que, ao dizer que até os nomes próprios deviam seguir a ortografia oficial, autorizava, no entendimento de gramáticos, que se “corrigissem” nomes de cidades brasileiras que supostamente estariam em desacordo com a ortografia oficial do português.
Assim, os gramáticos da época implicaram não apenas com Lages (que, diziam, deveria ser escrita com jota, por derivar do nome do objeto, laje); implicaram também com a gaúcha Chuí (que, segundo eles, deveria ser grafada Xuí, com xis, por ser palavra de origem indígena); com a paulista Mogi das Cruzes (que, segundo eles, deveria ser escrita Moji, com jota, também por vir do tupi), com Joinville, em Santa Catarina (pelos dois LL claramente não portugueses); com Campo dos Goytacazes (que queriam ver “reescrita” como “Goitacases”); com Paraty, que queriam ver “atualizada” a Parati, etc.
Obviamente, os tais gramáticos da época foram no mínimo ingênuos ao supor que poderiam forçar cidades inteiras a mudar seus nomes para atender a um formulário ortográfico. Nenhuma das cidades acima mencionadas aceitou ter seu nome alterado para adequá-lo à nova grafia – no que fizeram, aliás, muito bem, pois as regras ortográficas vão e vêm, e mudam com frequência; ao contrário da história e da tradição associadas aos nomes próprios, que não se sujeitam nem podem se sujeitar aos caprichos das gramáticas.
O novo Acordo Ortográfico, por fim, veio substituir o Formulário Ortográfico de 1943, com sua determinação fracassada, e legitimou o que já era a prática: eliminou a antiga regra de 1943 que determinava que os nomes próprios deveriam seguir as mesmas regras de ortografia que os substantivos comuns.
Assim, o certo, hoje, é Lages, com g; Chuí, com ch; Mogi, com g; Joinville, com dois ll; Goytacazes, com y e z; Paraty, com ípsilon. Os atlas, almanaques, enciclopédias, etc., já trazem, há anos, todos essas grafias nessas mesmas formas, que são as únicas usadas pela população dessas cidades e por seus órgãos oficiais, como prefeituras, Câmaras municipais, governos estaduais, pelo IBGE, etc.