poruqe jonh manuel monteiro considerava a açao dos bandeirates como uma açao despovoadora
Soluções para a tarefa
Isso é evidente no campo da história dos índios que, desde a década de 1990, sob a decisiva e marcante influência de John Monteiro, tem se renovado significativamente, com abordagens histórico-antropológicas que permitem novas compreensões sobre o lugar dos índios em nossa história. O papel irrelevante que, por tanto tempo, os historiadores deram aos índios já não se sustenta diante de inúmeros trabalhos que, na linha de pesquisa interdisciplinar incentivada por John, revelam novas realidades sobre os índios em contato com sociedades coloniais e pós-coloniais. A trajetória acadêmica de John Monteiro caminha junto ao desenvolvimento dessa historiografia que passou a considerar os índios como sujeitos históricos, questionando as antigas concepções que lhes reservavam o lugar de vítimas passivas dos processos de conquista e colonização. Defensor das causas indígenas, John militava por essa revisão historiográfica. Para ele, dar voz e vez aos índios na condição de agentes históricos é tarefa dos historiadores e deverá resultar no enterro definitivo de uma historiografia, muitas vezes, conivente com políticas de apagamento de identidades indígenas. Seu desempenho foi tão fundamental na valorização dessas abordagens que não seria exagero falar de uma história indígena, ou dos índios na história, antes e depois de John Monteiro. Se, no Brasil, as primeiras iniciativas para considerar os índios como agentes históricos partiram dos antropólogos e, muito especialmente, de Manuela Carneiro da Cunha, grande incentivadora do tema, convém lembrar que John estava entre eles. Já, então, renomado historiador e especialista em história dos índios na colônia, participou intensamente, a convite da própria Manuela, de vários trabalhos coletivos que, na década de 1990, foram pioneiros em propiciar novas compreensões sobre as populações indígenas em situações de contato. Escreveu capítulos em duas coletâneas interdisciplinares que assinalaram mudanças significativas nas abordagens sobre os índios no Brasil: História dos Índios no Brasil (1992), organizada por Carneiro da Cunha, e A Temática indígena na Escola – novos subsídios para professores de 1° e 2° Graus (1995), organizada por Aracy L. da Silva e Luís Donisete B. Grupioni. Nesta última, seu texto "O Desafio da História Indígena no Brasil" já apontava para as mudanças promissoras que começavam a ocorrer sob a influência das novas abordagens histórico-antropológicas e dos movimentos políticos dos próprios índios que abriam novas perspectivas para os estudos históricos sobre eles. Terminava o artigo conclamando os historiadores a assumir o desafio. Monteiro atuou também no Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da USP que, coordenado por Carneiro da Cunha, teve importante papel no estreitamento do diálogo entre História e Antropologia. Com Manuela, coordenou ampla pesquisa documental realizada por inúmeros pesquisadores de todas as regiões do Brasil, reunindo e sistematizando informações sobre os índios nos mais variados registros encontrados em bibliotecas, arquivos, cartórios, museus, paróquias etc. Desse trabalho resultou o Guia de Fontes para a História Indígena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros, valioso instrumento de pesquisa que, publicado em 1994, tem sido amplamente utilizado pelos estudiosos do tema. No ano de 1994 ocorreu também o lançamento de seu livro Negros da Terra – índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. Fruto de sua tese de doutorado, essa obra seminal trouxe inestimável contribuição à historiografia brasileira. Fundamentado em ampla pesquisa documental interpretada à luz de suas concepções interdisciplinares, John desmontou definitivamente o equivocado pressuposto de que a mão de obra indígena teria sido pouco utilizada na produção agrícola da América portuguesa. Além disso, deu visibilidade ao protagonismo dos índios na construção da sociedade colonial da capitania de São Paulo, evidenciando que a dinâmica da conquista e da colonização dependia em grande parte das populações indígenas, cuja atuação se dava com base na dinâmica de suas próprias sociedades. Também em 1994 iniciou suas atividades no Departamento de Antropologia da Unicamp, onde desenvolveu múltiplas atividades de pesquisa, docência e administração, incluindo a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), função para a qual havia sido recentemente nomeado (dezembro de 2012). John foi também pesquisador do Cebrap (1991-1998) e professor da Unesp (Araraquara, Assis e Franca, entre 1986 e 1991), tendo coordenado o Centro de Estudos Latino-Americanos (Cela) dessa universidade.