Português
Leia o texto e responda às questões 01, 02 e 03.
[...] Mas dentro de mim havia uma agonia de tal natureza, um tão estranho sentimento de
infelicidade que era exatamente como se eu chorasse em altas vozes. E, para vencer-me,
arranquei-lhe das mãos a flauta em que ele viera soprando vagamente, e mandei-o reunir todos
os que iam conosco, a fim de que me ouvissem tocar a mim.
[...] Quando me anunciaram que estavam todos reunidos, comecei a tocar e a dançar. Ficaram
muito espantados, e, não se contendo, disseram que eu era o músico mais engraçado que já
tinham visto. E justamente nesse instante eu estava tocando a mais trágica das canções que já
se inventaram. Mas era de um povo distante... E os sons eram incompreensíveis como as
palavras de outras línguas.
“Viva!”, gritou-me um deles. “Por que não me mostrastes essas habilidades logo que partimos?
Teríamos gozado mais! ...” Como cumpria responder alguma coisa, acontece-me falar. “É que no
começo andava meio triste...” “E agora?” perguntaram-me. “Oh!... Agora estou muito mudado...”
Então ouvi o mais velho dizer. “É sempre assim, nestas longas viagens. Parte-se com melancolia.
Mas por fim a gente se alegra tanto que até parece loucura...” E deram-me um gole de vinho, com
travo amargo e viscoso de sangue. Provavelmente não seria do vinho, mas da minha boca...
Tinha tocado tanto!
E toquei e dancei todas as minhas cantigas e danças. Já não entendia o que tocava nem onde
punha os pés. Não obstante, não podia parar. Bailava desarticulado, delirante, incansável... De
vez em quando, alguém gritava, aplaudindo. Era sempre a passagem mais dolorosa....[...]
MEIRELES, Cecília. “Epopeia”. Episódio humano. Rio de Janeiro: Desiderata: Batel, 2007. p. 26-
27. (adaptado).
Vocabulário
Travo: Sabor adstringente de qualquer comida ou bebida; amargor
Questão 01
Nesse excerto da crônica “Epopeia”, observa-se o emprego do discurso indireto em:
(A) “É que no começo andava meio triste...”
(B) E toquei e dancei todas as minhas cantigas e danças.
(C) “Mas por fim a gente se alegra tanto que até parece loucura...”
(D) [...] disseram que eu era o músico mais engraçado que já tinham visto.
(E) [...] eu estava tocando a mais trágica das canções que já se inventaram.
Questão 02
No final do segundo parágrafo, no trecho “E deram-me um gole de vinho, com travo amargo e
viscoso de sangue. Provavelmente não seria do vinho, mas da minha boca... Tinha tocado tanto!”,
o personagem julga que:
(A) o vinho dado a ele certamente tinha gosto de sangue.
(B) o gole de vinho tomado tinha um travo amargo devido a sua tristeza.
(C) o ferimento na boca, provocado pela flauta, causava o gosto de sangue.
(D) o gosto de sangue era provocado por suas loucuras e por sua fértil imaginação.(E) o fato de ter tocado tanto era a causa de ele não ter gostado muito daquele vinho.
Questão 03
No trecho “Ficaram muito espantados, e, não se contendo, disseram que eu era o músico mais
engraçado que já tinham visto. E justamente nesse instante eu estava tocando a mais trágica das
canções que já se inventaram.”, o narrador personagem descreve as reações das pessoas que
ouviam sua música. Considerando o contexto da narrativa, o flautista julgou que o público tinha
achado que as melodias trágicas eram engraçadas porque:
(A) a música era tão alegre que deixava loucos todos os ouvintes.
(B) pertenciam a uma nacionalidade cuja cultura era diferente da dele.
(C) estava detestando aquele espetáculo e achando tudo pouco divertido.
(D) o tocador de flauta esquecia a música e por isso bailava desajeitadamente.
(E) percebia o sentimento de infelicidade do músico que chorava em altas vozes.
Soluções para a tarefa
Respondido por
6
Resposta:
1D, 2C, 3B
Explicação:
as respostas estão explicitadas no text
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