Porque surgem os conflitos da terra? alguém ajuda
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Resposta:
Não obstante a violência de tomada do território, não raro amparada por políticas públicas que defendem os interesses de fazendeiros e empresários, a condenação pelo mando de assassinato de lideranças políticas e religiosas que defendem o direito à terra é praticamente nula. Entre outras razões, porque há uma rede criminosa muito bem organizada, onde os pistoleiros são apenas a ponta do iceberg em que muitas vezes sequer sabem do verdadeiro mandante. “A grande complicação de se chegar aos mandantes dos crimes é que não se tem um único mandante, e sim um grupo de pessoas que encomendou os assassinatos. Existe um sindicato de pistolagem que é acionado por uma associação de fazendeiros. É esse sindicato que chama o pistoleiro que, por sua vez, não sabe quem o contratou, o que leva à impossibilidade de uma investigação mais profunda, pois a pessoa que executou o assassinato não conhece, de fato, o mandante”, descreve o entrevistado.
Em meio a esse contexto de violência explícita e contínua, as romarias cumprem um papel político profundo e complexo e passam a operar como uma espécie de mito fundador da luta pela terra. “Vejo a Romaria como um mito fundador, porque ela reúne, em torno da pessoa assassinada, todo o contexto que causou esse e outros assassinatos naquele local. Todos esses elementos vão compondo a narrativa do martírio, em três dimensões: o local do assassinato, a pessoa assassinada e a memória que se faz do assassinato”, esclarece o pesquisador. “Por isso não é qualquer pessoa que vira mártir, mas alguém morto em decorrência da extrema violência desse conflito de terra e da sua atuação nesse contexto. A narrativa recupera o período anterior e posterior ao assassinato, como estratégia de denúncia de até onde o conflito pode levar, ao limite da violência”, complementa.
Para entendercontextos de conflito de terra é preciso levar em conta nossa história de colonização. Os portugueses chegaram nos anos 1500 e desde então tem-se espoliado as populações indígenas de suas terras, pressionando uma migração do litoral para o interior do país. Com o avanço da exploração de terras no litoral, começou-se uma investida de exploração para o centro do país a partir das bandeiras paulistas. A Lei de Terras de 1850 faz concessões de terras a um grupo específico de pessoas e exclui indígenas, camponeses e populações negras de modo geral.
O conflito de terras ocorre porque, desde que temos vivido o processo de colonização, as populações negras e indígenas estão sendo espoliadas. Não por acaso maior incidência de conflito está concentrada nas regiões Nordeste e Norte do país, onde há um grande fluxo migratório incentivado pelo governo, que faz uma sobreposição de terras – concedendo terras a grandes empresas e grandes fazendeiros – e desconsidera a presença nesses locais de indígenas e camponeses, entre outros.
Todo esse movimento político leva aos conflitos que eclodem de maneira muito drástica no período militar, porque havia um plano de integralização do país em que o governo oferecia terras públicas a empresários e fazendeiros. A pesquisa aponta para o final da década de 1960 e início dos anos 1970, com o plano de integração nacional, concedendo terras públicas aos latifundiários e grileiros. Desde então os conflitos entre indígenas e esses “novos” personagens se agravaram, porque se trata de terras estatais e públicas ocupadas tradicionalmente pelas populações nativas.
Espoliação
O conflito se desdobra até os dias atuais, porque isso é muito presente – terras públicas ocupadas por povos tradicionais e a disputa com fazendeiros, incentivados e financiados por agentes do poder público, que fazem um movimento de espoliação. Se nas décadas de 1950, 1960 e 1970 temos a construção de estradas no interior da Amazônia, vamos ter também a construção de ferrovias para exportar o minério, e tudo isso produz uma atmosfera de conflito porque estas estradas e ferrovias passam por terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas, quilombolas e camponeses. Embora estas populações não tenham documentos de propriedade do território, elas têm direito, porque estão ali desde períodos imemoráveis. O contexto do conflito de terra atual tem sempre uma relação com extrativistas – de minério ou madeira –, necessidade de escoamento do monocultivo de soja e milho em estados como Mato Grosso, Pará, Tocantins, abertura de estradas; tudo isso com financiamento público porque interessa ao governo. Isso não se restringe ao atual governo, mas abarca todos os governos do Brasil, desde os períodos mais remotos, em que o crescimento da economia tem como foco o monocultivo, a exploração de terras, e não uma economia baseada em produção familiar, por exemplo.