Porque Pagu tornou-se um ícone do feminismo?
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Resumo: Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), a Pagu, sempre foi sujeito da própria existência.
Mulher livre, optou por “escravizar-se voluntariamente” quando se filiou ao Partido Comunista
Brasileiro, em 1930, para lutar por igualdade e justiça social. Sofreu as opressões do autoritarismo
varguista e os preconceitos do partido. Foi presa e torturada durante a ditadura do Estado Novo
(1937-1945). A Patrícia que saiu da prisão em 1940 já não queria ser chamada de Pagu, apelido
pelo qual ficou famosa. A experiência da prisão e das torturas a que foi submetida mudou sua vida,
mas não lhe exauriu as forças para lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. A memória
sobre a Patrícia Galvão frequentemente a apresenta como ícone do feminismo. A maioria dos
relatos destaca sua beleza, seu heroísmo e mesmo atitudes suas consideradas escandalosas. O
objetivo desta comunicação é também lembrar esta Patrícia já mais velha, talvez não tão bela, de
lábios não tão vermelhos, que viveu profundas crises de depressão e tentou suicídio, e de quem
pouco se fala. Rever Pagu por meio do enfoque da história cultural em diálogo com o feminismo é o
objetivo central da pesquisa apresentada nesta comunicação.
Palavras-chave: Memória. Feminismo. Cultura política. Ditadura.
“Não foi fácil ler essa carta. Ao longo de décadas, bem que tentei. Mas nunca fui além de
umas poucas laudas, brecado pela emoção”. Esta fala é de Geraldo Galvão Ferraz. A carta em
questão foi escrita por sua mãe, Patrícia Galvão, quando estava grávida dele, em 1940. Uma carta
autobiográfica, dirigida ao seu pai, Geraldo Ferraz.
Solene, o pai entrega uma pasta preta, de um tecido duro parecido com um linóleo. Tem
cara de algo velho, que foi muitas vezes manuseado, enfiado em malas, transportado em
viagens, mudanças. De dentro, espiam umas laudas de papel jornal. Não das que eram
usadas e foram tornadas obsoleta nas redações quando os computadores dominaram a
Terra. Eram compridas e mais largas. O filho pega a pasta sentindo que aquele não era um
momento qualquer. Tem uma aura de “pai para filho”, quer dizer, de continuidade, de
herança, de algo que é entregue como uma expressão concreta do sangue comum
transmitido. Um tesouro familiar que o filho deve futuramente passar para seu filho e assim
por diante.