Porque a classe burguesa incentivou a classe trabalhadora a praticar os esportes?
Soluções para a tarefa
Resposta:
COLEMAN, J.A. (Org.) O Esporte as contradições da sociedade. Petrópolis. Vozes, 1989
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista (Manifest der Kommunistischen Partei) São Paulo. Paz e Terra, 1996.
* Baseado no trabalho original intitulado “Das Classes Sociais e o Esporte: um ensaio sobre o esporte como um instrumento da luta de classes.” Apresentado na Faculdade de Educação Física/UnB pelo aluno Tiago Amaral no curso de Sociologia do Esporte.
Explicação:
No que Karl Marx chama de sociedade de classes, onde fica evidente a divisão entre dominantes e subordinados, o esporte reflete as contradições entre ambos e se apresenta de forma diferente em cada segmento da sociedade. Ao mesmo tempo em que a competição se manifesta no esporte, manifesta-se também os interesses de cada classe. Ambos os interesses aparecem no acesso desigual aos esportes e nos discursos e estratégias de cada um para o uso do tempo livre e da prática desportiva.
O esporte então não é algo axiologicamente neutro, pois está envolto e permeado pelas contradições e dualidades na sociedade, o esporte não é algo neutro ou apolítico, mas ainda contém um potencial emancipatório para o ser humano. (COLEMAN, 1989)
É claro que por estar ligado à sociedade, notamos que o esporte se modificou de acordo com a mudança no modo de produção da sociedade capitalista. Com o fim do feudalismo, os jogos populares e festivais medievais vão dando lugar a esportes tradicionalmente aristocráticos, como a caça, corrida de cavalos, tênis ou críquete. Ideais militares e de superioridade esportiva perduravam até então nos círculos nobres e nas escolas para jovens abastados, sob a ideologia que a aristocracia era forte tanto nos combates intelectuais quanto em esporte “viris”.
Entretanto a industrialização mostrou no esporte e no acesso da classe trabalhadora a ele, uma forma de inculcar nos operários os interesses burgueses e seus ideais de respeitabilidade, além de promover a harmonia das classes e disciplinar as classes inferiores, o que foi considerado como uma forma de “disciplinar e vigiar” em estudos posteriores.
COLEMAN 1989 cita que, a partir dos anos 1860-1880 começou a predominar uma nova ideologia do atletismo cujos principais temas eram: os esportes populares promovem harmonia entre as classes, promovem as qualidades marciais e o patriotismo e impedem a afeminação e a degeneração. A exportação de esportes de elite para as classes trabalhadoras encerrava uma tentativa de tornar a classe trabalhadora na parte mais maleável da força de trabalho, que além de promover a “harmonia” de classes, inculcava as idéias e normas burguesas de respeitabilidade.
O críquete era esporte de burguês!
Por fim a vitória das classes hegemônicas se concretizou a partir do momento em que as organizações e agremiações esportivas dos trabalhadores necessitavam de recursos financeiros que as subsidiassem isso excluiu os trabalhadores de qualquer poder decisório direto na gestão do esporte.
O esporte perdeu seu caráter emancipatório ou pelo menos, esse ideal foi deturpado. Considerar o esporte dentro das contradições sociais envolve percebermos que ele está ligado a diversos ideais. O acesso desigual ao esporte o transformou em um meio ou bem de consumo, onde o esporte é vendido aos consumidores. Políticas públicas de acesso ao esporte beneficiam alguns interesses privados, que pregam com o esporte apenas o auge da vitória, o êxito, o reconhecimento e o culto ao ídolo.
Dos aparelhos ideológicos do Estado, tais como cunhados por Louis Althusser, faz parte desse conjunto o esporte, que exerce uma função ideológica: impor a idéia do rendimento físico, e assim como os outros aparelhos ideológicos concorre para o mesmo fim – a reprodução das relações exigidas pelo modo de produção industrial.
O esporte cria um consenso social implícito, apoiado sobre o senso-comum e consegue a adesão popular à hegemonia das classes dominantes, o papel do esporte, nesse caso, passa a ser o de inculcar o espírito de disciplina, da obediência e do conformismo social apoiado pelo Estado, o esporte passa ter uma função higienista.