Por trás das paredes
Do encontro à união. Talvez duas famílias amigas em busca de convivência
amigável, talvez pessoas em perigo na luta contra um inimigo comum... Ou, quem sabe,
nada disso! Por que não uma “trombada” casual entre um homem e uma mulher
andando em sentido contrário? A trombada explicaria melhor toda a dinâmica do que é
atualmente uma cópia diminuída (mas nem por isso menos complexa) do planeta como
um todo.
A cidade, vista em toda a sua diversidade, mostra constantemente os choques
entre grupos diferentes quanto a pontos de vista, filosofias, ideais, trabalho, ou mesmo
quanto à marca de uma camiseta que não pode ser de todos. Desde suas formas mais
primitivas, quando os primeiros seres humanos resolveram ou, por acaso, passaram a
conviver em um mesmo local, a inconstância de um comportamento padrão nos núcleos
urbanos tornou-se marca registrada e pouquíssimas vezes violada. Inconscientemente
muitas pessoas se chocam. Sempre foi assim e certamente continuará sendo não pelo
fato de os semelhantes se repelirem (como chamar de semelhantes seres tão complexos
e singulares como os homens?), mas sim pela incompreensível lei antifísica que trata da
repulsão não generalizada entre os diferentes.
Com o passar dos anos, o caráter ainda rural das pioneiras cidades foi sendo
modificado pela dinâmica de seus moradores e, consequentemente, de seus interesses.
De simples agrupamentos humanos em busca de segurança a gigantescos espaços
geográficos em constante ebulição, o crescimento nem sempre foi contínuo. A
ruralização feudal freou todo o esplendor e magnitude das lendárias cidades da
Antiguidade Clássica, símbolos do poder de seus imperadores e instrumentos de
dominação da imensa maioria marginalizada. Com o renascimento comercial, a
urbanização reapareceu com toda a sua força e, a partir de então, passando pela
Revolução Industrial, as cidades não pararam mais de crescer. O resultado não
concluído de tal processo pode ser visto hoje através das megacidades espalhadas ao
redor do mundo, mas, como tudo o que é humano, existe também o oposto. Vilarejos,
distritos e pequenos municípios ainda conservam o ar feudal há muito vivido.
Mas a questão é: qual a magia das cidades, que reúnem pessoas tão diferentes
em espaços também tão distintos, em busca de objetivos variados através de
instrumentos também incomuns? A resposta talvez seja a compatibilidade entre espírito
humano e a dinâmica alucinada da cidade. Não apenas da grande metrópole abarrotada
de gente, mas também do pequeno município, cuja dinâmica se adéqua às pessoas que
nele vivem.
O campo limita a sobrevivência ao plantio ou ao cuidado de animais. Não
oferece mais opções. Já a cidade vive graças ao novo, abre espaço àquilo que é
diferente, estimula os desvios de padrão. Como não observar a abertura dos shoppings,
tipicamente elitistas, às camadas populares? Como não notar o cinturão de favelas
envolvendo o núcleo rico dos grandes centros, ou mesmo as casas mais pobres em
contraste com as mansões das pequenas cidades? O núcleo urbano se adéqua à essência
humana na medida em que oferece perspectivas de progresso aos mais ricos e de
ascensão aos marginalizados. A diversidade encanta, a multiplicidade estimula o sonho
mesmo daqueles que não têm onde dormir. É o sonhar acordado na busca do melhor.
Inegavelmente, a cidade também oferece mais recursos relativos à educação,
saúde, lazer e cultura, embora tais recursos obedeçam à lógica irracional de
desigualdades que governa o mundo. A cidade é o microcosmo do planeta. Todas as
relações observadas entre países ricos e países pobres são também vistas nela, em escala
reduzida. São essas reações que explicam a atual situação de violência e medo, mas
também de crescimento, progresso e união.
Cidade é fruto de união entre o que não combina, resultando numa harmonia
toda especial e desajeitada, ora tímida, ora agressiva, muitas vezes aconchegante e
tantas outras repulsiva. A cidade não é um lugar, mas sim um conjunto de pessoas que
têm, cada uma, uma visão toda particular e única desse modo de vida. São essas
pessoas, nas suas relações diárias, que movimentam as engrenagens deste complexo e o
fazem andar.
Enquanto existir vida humana e diversidade de pensamento, a cidade e seus
mecanismos estarão de pé. Isso porque cidade não é concreto, nem tijolo, nem água
encanada. Cidade é, pura e simplesmente, o que se chama vida.
1-Qual é o tema abordado no texto?
2- O 1º parágrafo apresenta uma série de exemplos hipotéticos. Que função eles cumprem na introdução do tema? Explique.
3- Nos 2º e 3º parágrafos, o autor do texto faz uma retomada histórica referente ao tema do texto. Quais as passagens em que isso ocorre?
Soluções para a tarefa
Respondido por
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Resposta:
sim
Explicação:
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