Por que somos levados a desejar aquilo que não nos leva necessariamente à felicidade?
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Resposta:
Porque muitas vezes nos não sabemos o que queremos de verdade e acabamos nos confundindo com o que queremos e o que achamos que devemos querer.
Resposta:
Vivemos num mundo em que a felicidade é algo desejado por todos e perseguido de forma intensa. À primeira vista todos parecem saber, com clareza, o que é felicidade e onde ela reside. Na realidade, o primeiro e decisivo passo rumo a esta condição é a compreensão de seu significado. Este questionamento acompanha a humanidade desde seus primórdios, em especial, a partir da obra de filósofos e poetas. Atualmente é, inclusive, tema de pesquisas científicas, que por meio de modernas técnicas e tecnologias, tentam decifrar como reagimos as experiências por nós vividas e, o que e quanto disso representam nossa jornada rumo a felicidade.
O que é certo, a princípio, é que a felicidade não é perene, tratando-se de partes da trilha percorrida por cada pessoa ao longo de sua existência. Ninguém é feliz o tempo todo. O melhor que conseguimos fazer é manter uma boa média, na qual nos sentimos satisfeitos e em paz com aquilo que conseguimos compor diariamente. Em alguns momentos, no entanto, passamos por momentos de desconforto, insatisfação, estresse, ansiedade, medo e outros sentimentos próprios aos seres humanos, relacionados a contextos específicos e situações momentâneas. Algumas destas situações desgastantes, no entanto, podem se prolongar por períodos mais longos de tempo e, ao perdurar, causam real sensação de tristeza, o oposto da perseguida felicidade, podendo resultar até mesmo em doenças, ou seja, em repercussões orgânicas.
Este tema, tão caro a humanidade, conforme já mencionado, foi alvo de exames e reflexões desde a Antiguidade e, neste interim, entre outros, coube ao pensador grego Epicuro, que viveu entre os séculos IV e III a.C., pensar com profundidade sobre o assunto.
Ao se pronunciar sobre o tema, entre as muitas produções por ele realizadas ao longo de sua existência, das quais, infelizmente, contamos apenas com poucos elementos remanescentes, assim Epicuro se manifestou sobre a felicidade:
“Devemos estudar os meios de alcançar a felicidade, pois, quando a temos, possuímos tudo e, quando não a temos, fazemos tudo por alcançá-la”.
Destacou, em princípio, aquilo que é comum a todos os seres humanos, a perseguição de um estado feliz, no qual estejamos satisfeitos, alegres e em paz por conta daquilo que somos, vivemos e conquistamos ao longo de nossas existências. A perenidade desta busca é outro aspecto notável nesta breve frase, proferida em sua Carta a Meneceu, pois é, de fato, o que estamos a fazer o tempo todo quando não nos sentimos felizes.
Epicuro ressalta, nesta mesma carta, que o ser humano “deve compreender que, de entre os desejos, uns são naturais e os outros vãos e que, de entre os naturais, uns são necessários e os outros somente naturais. Finalmente, de entre os desejos necessários, uns são necessários à felicidade, outros à tranquilidade do corpo e outros à própria vida”.
Ao assim se manifestar Epicuro dá o necessário destaque a ideia de que nem tudo aquilo que desejamos e que imaginamos ser objetos de nossa felicidade irá realmente nos fazer atingir este estado ou condição. Ao deixar claro que há desejos vãos, modernamente ele vai de encontro, por exemplo, ao fato de que somos muitas vezes levados a crer que precisamos de algum produto ou serviço a nós oferecido pelo mercado e vendido como fonte de felicidade por brilhantes estratégias de marketing e divulgação que acabam nos levando ao consumo e a ações impensadas e/ou compulsivas.
Esclarece o pensador, nascido em Samos e que produziu sua obra no período helenístico, que há também os desejos naturais e que, dentre eles, há aqueles que são apenas naturais, como por exemplo alimentar-se, beber água, respirar ou realizar as necessidades fisiológicas básicas e outros, que igualmente naturais, são necessários ou essenciais para a felicidade humana.