Por que podemos dizer que aquele que ama o mito (lembrando que amor é Philia), pode ser também chamado de filósofo?
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Resposta:
Todo aquele que entra em contato com a Filosofia como disciplina, seja no ensino médio, seja na universidade, é confrontado com o significado sempre enigmático dessas duas palavras gregas, “philos” e “sophos”, as quais, reunidas, se constituíram e se transformaram num dos maiores legados da história do Ocidente. Como sabemos, são palavras em circulação na cultura grega, muito antes dessa junção entre ambas, tão peculiar e significativa. Seus significados, entretanto, desafiam até hoje os estudiosos e os eruditos. Afinal de contas, “sophos” é saber ou sabedoria? E “philia”, é amizade ou é também amor? Em outras palavras: quais deslocamentos essa união, que resultou em “filosofia”, opera em relação aos usos correntes dessas palavras ou mesmo ao uso que dela fazem Homero, os pré-socráticos e os chamados sofistas?
Devemos, sem dúvida, a Sócrates e a Platão, a demarcação desse campo, dessa atividade e desse modo de ser e de agir, ao qual chamamos de Filosofia. Para Sócrates, não se trata mais de adquirir uma “sophia” no sentido de um “saber-fazer”, pressuposto fundamental para a aquisição do saber em geral, mas sim de colocar uma questão, uma pergunta, uma dúvida, expor um problema. É essa a bela e misteriosa imagem que Platão nos legou de Sócrates no Banquete, aquela enfim, de que o filósofo é, antes de mais nada, movido por um desejo, que não seria mais o do “saber-fazer”, mas sim o de alcançar “a” sabedoria. Basta a presença de Sócrates – ficamos sabendo disso pelo “testemunho” de Alcebíades – cuja aparência física era inteiramente incompatível com os ideais de beleza da Grécia clássica, para que se impunha àquele que o ouvia, uma mudança de atitude: não mais o passivo receptor de lições de retórica, do aprendiz de técnicas do bem falar, que deveriam ser exercitadas no clima agonístico da pólis, mas sim, agora, aquele que é levado, pelas interrogações e pelos problemas, a colocar-se, ativamente, diante de si mesmo e do mundo. Sócrates é aquele, conforme lemos no Teeteto, que se define como átopos, como o “sem lugar” e, no limite, como o “esquisito”, e como aquele que apenas cria aporias, isto é, que não resolve muita coisa ou coisa nenhuma, mas, entretanto, gera perplexidade e desconfiança diante da organização aparentemente harmoniosa da pólis e do cosmos. O “não saber” socrático adquire aqui toda a sua significação, na medida em que ele se constitui a partir de uma crítica contundente à pretensão dos sabidos. Ao final de contas, o resultado da conversação, do diálogo, mesmo que ele se de Sócrates a se deslocar, a mudar de posição, a tomar consciência das formas contraditórias, pelas quais se expressa e por meio das quais pretende compreender a si mesmo e ao mundo.