Por que os preconceitos são naturalizados?
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Explicação:
Posso entender o que é racismo e até dissertar sobre o assunto, mas a minha opinião não tem força como a de quem o vive na pele. Na prática, eu não sei o que é e nem sinto o mesmo. Não posso dizer como um negro deve se sentir ao ver um branco usando um turbante, por exemplo. Eu entendo o problema, mas ele não é meu. Não é meu há séculos. Eu sou privilegiado. Tenho dores, mas não são as mesmas. Nem de longe. “Todos podem defender o discurso de que somos iguais, de que não existe racismo, machismo e de que homens e mulheres possuem os mesmos direitos perante a lei. É um discurso lindo, se fosse verdadeiro. Não é o que eu vejo no dia a dia, e eu não quero ignorar a realidade. Acredito numa sociedade emancipada, mas ela não pode ser implantada na sociedade em que estamos, repleta de dívidas históricas por todos os lados”, defende Mirian.
“Eu sofro racismo diariamente. As pessoas perguntam se eu lavo o meu cabelo, se ele molha e se não quero abaixar o volume que ele tem. O negro não está na moda, ele está em um caixão, ele está na morte.
Quando um branco se pinta de preto, ele está o ridicularizando. A história conta isso. Até o início do século 19, a técnica chamada “máscara negra” foi amplamente usada por comediantes estadunidenses para representar a negritude de forma desrespeitosa e distorcida. Para Arísia Barros, também consultora em ações de aplicabilidade da Lei nº10.639/03, que diz respeito ao ensino de História e Cultura Afro-Brasileira em sala de aula, o blackface tem como propósito satirizar as características africanas.
“Essa prática expõe o racismo de uma forma visceralmente artística e reforça no imaginário social os conceitos de beleza padrão”. Uma fantasia de negro ou de índio, no final das contas, não é apenas uma fantasia. “Em outras condições, eu até diria que seria uma homenagem, mas nessa sociedade, onde meu povo foi agredido por anos e nossa dor foi naturalizada, transformada em piada, não. Quando a gente tem voz, dizem que é muito mimimi. Assim não dá. Entendem o lado dos que não veem nada demais nisso, mas não entendem o lado de quem sente dor por isso?”, questiona Mirian.