por que ocorre o silenciamento quanto a real origem da filosofia?
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Resposta:
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Explicação:
A filosofia identifica-se com um saber crítico de superação do senso comum. Assim, podem causar estranhamento os inúmeros silenciamentos e invisibilizações operados pela tradição filosófica ocidental e disseminados por seu ensino. A filosofia segue uma longa trajetória histórica de exclusões de gênero, grupos étnicos, localidades geográficas. Estas práticas são produto da colonialidade de saberes e poderes, imbricados com a colonialidade do ser, que nega existência às subjetividades historicamente objetificadas sob eixos de opressão como raça, gênero, classe, sexualidade. O objetivo deste escrito é propor o reconhecimento desta violência do cânone filosófico como prática epistemicida, em especial no que se refere ao recorte de gênero e sua relação com a colonialidade. A história dessa exclusão, ao negar existência epistêmica a outras matrizes de produção filosófica, retirando seus lugares de fala, deslegitima saberes e ratifica um padrão hegemônico eurocentrado. Adota-se aqui a interlocução com algumas filósofas, em especial latino-americanas, a fim de evidenciar a violência com que opera o cânone filosófico, responsável pelo epistemicídio de mulheres, africanos, lationamericanos, indígenas. Este escrito valoriza práticas educativas descolonizadoras, que tensionem o cânone filosófico, como potentes para abrir fissuras e inscrever reexistências, no campo das micro-resistências localizadas.
PALAVRAS-CHAVE: filósofas, feminismo, cânone filosófico, epistemicídio.
FILOSOFIA E COLONIALIDADE
A filosofia constitui muito de sua identidade em contraposição aos preconceitos e ao senso comum, apresentando-se associada a uma atitude filosófica de espanto e admiração, enquanto atitudes de desnaturalização do que é histórico e construído. Ao colocar-se em busca do saber, superando a ignorância, não aceitando passivamente que as coisas simplesmente sejam como são, a filosofia instaura a dúvida, questiona, nos propõe olhar sob outras perspectivas. Esse corolário que fundamenta o fazer e o saber filosóficos poderia constituir-se como uma rara unanimidade no âmbito dos que praticam a filosofia, seja na academia ou em espaços alternativos: quem haveria de duvidar do caráter investigador e questionador da filosofia?
Em contradição a esse corolário questionador que poderia sugerir liberdade de pensamento, o que identificamos na instauração da tradição filosófica e seus saberes legitimados e canonizados, tal como denunciam teóricas e teóricos da descolonização, são práticas que corroboram com o senso comum de um projeto de poder que tem a Europa como centro radial e o mundo norte-ocidental como seu modelo a ser expandido. A já conhecida imbricação entre poderes e saberes. Porém parece que absorvemos esse conhecimento somente enquanto teoria, pois concordamos com as evidências e os argumentos que o fundamentam, mas simplesmente o catalogamos em alguma pasta de ‘verdades’ em nossa mente, já tão cheia de informações. Dificilmente nos preocupamos em identificar as promiscuidades dessa imbricação na prática, esse conhecimento teórico da imbricação entre saberes e poderes não se transforma em conhecimento prático, raramente se torna alvo de nossas lutas efetivas – ação, denúncia, resistência. Isso apenas se acentua quando essa prática ocorre em nossa área de trabalho, talvez pela ausência do mínimo de distanciamento, que borra e distorce a própria visão das coisas.