Por que a fotografia pode ser intelectual para o ser humano???
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A capacidade da fotografia de não apenas registrar a vida, mas também de criar novas formas de vida para nós. O fazer fotográfico que vai além do olhar humano. O relacionamento dinâmico entre produtores e consumidores de imagens, entre os celulares e nós, entre máquinas e humanos. Estas são algumas das questões que giram em torno do conceito da fotografia não humana, na visão da professora, artista e curadora polonesa Joanna Zylinska.
Mais do que simplesmente tratar de aspectos relacionados a fotografias realizadas por máquinas sem a ingerência do olhar humano, a pensadora acha importante discutir a capacidade da fotografia de criar mundos. “Hoje, com a digitalização da imagem e sua onipresença, disponível em tantas mídias e lugares, acredito que houve uma mudança radical em como a fotografia pode ser entendida”.
Zylinska esteve no Brasil no início de junho para participar da conferência Desdobrando Imagens: Realidade Virtual, Cinema Volumétrico e Controle de Espaços, realizada na Universidade Federal do Espírito Santo e no Sesc Belenzinho (SP), e conversou com a ZUM sobre fotografia não humana, as novas mídias, o antropeceno e o fim do homem, entre outros temas.
Em junho, você fez uma palestra em São Paulo com o título “Fotografia não humana: desdobrando nosso mundo”. Podemos começar nossa conversa com uma explanação sobre o conceito de fotografia não humana?
A ideia da fotografia não humana diz respeito ao fato de que hoje, na era dos circuitos fechados de TV, imagens de satélite, escaneamento corporal (body scan) e afins, a fotografia está cada vez mais descolada da interferência e da visão humana. Existe um outro “ser” responsável pela captação, uma máquina que enxerga o que o olho humano não consegue. Mas, ao mesmo tempo, até as fotografias feitas pelos humanos carregam certa mecanicidade, o que eu chamo de um elemento não humano. Ou, como disse o filósofo da imagem Vilém Flusser (1920-1991), um elemento algorítmico. Na maioria dos smartphones, por exemplo, quem decide como será a fotografia é a câmera ou a estética do Instagram, feita de filtros pré-definidos, que já impõem determinada visão. Costumo falar de diferentes níveis de fotografia não humana, para mostrar que existe um entrelaçamento de planos nesse conceito. O primeiro nível, o mais óbvio, se refere à foto do não humano, sem a nossa presença, como uma vasta paisagem totalmente inabitada. O segundo, seria de fotografias que não são feitas por humanos, e aqui podemos pensar na microfotografia, câmeras de controle de tráfego, câmeras instaladas no telescópio Hubble, Google Street View e até mesmo nos processos de alta tecnologia para medição de tempos geológicos. E o terceiro significado é baseado na ideia de que fotografias são feitas para não humanos, como o QR code, uma forma de comunicação algorítmica desenvolvida